quarta-feira, 28 de julho de 2010

"Tudo isso por quê?
Porque era a sua sina.
Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem.
Pode e deve."
(Érico Veríssimo)


Peguei emprestado lá da Andréa

terça-feira, 27 de julho de 2010

"Às vezes, me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim."
(Bukowski)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

What?!?! Um ESTALEIRO em plena 'Baía dos Golfinhos'?!

Governo é contra estaleiro de Eike Batista em Santa Catarina

"O Instituto Chico Mendes, do governo federal, emitiu parecer contrário a um projeto bilionário do empresário Eike Batista de construção de um estaleiro em Biguaçu (região metropolitana de Florianópolis).
A obra é da OSX, nova empresa de Eike, em parceria com a Hyundai e ficaria próxima a três reservas ecológicas e a uma comunidade indígena. O objetivo é usar o estaleiro para a construção de navios voltados para a extração de petróleo.
O governo de Santa Catarina quer comandar o processo de licenciamento do projeto, orçado em R$ 3 bilhões. O Ministério Público Federal defende que esse processo seja de responsabilidade do Ibama, por causa do impacto ambiental.
A previsão é que o estaleiro ocupe uma faixa de até 1.700 metros de frente para o mar, próxima a praias badaladas de Florianópolis, como Jurerê. O Instituto Chico Mendes diz que o empreendimento foi elaborado em "área sensível" e traria danos irreversíveis ao ambiente, além de afetar setores como turismo, pesca e maricultura.
A Fatma (órgão ambiental de SC) minimiza o parecer. Para Murilo Flores, presidente do órgão, o documento não representa um ponto final à obra, mas abre caminho para negociações com os órgãos ambientais para reduzir impactos.
"Há problemas que, com tecnologia, podem ser superados", diz. Segundo ele, a Fatma já fez uma série de exigências ao projeto, que vêm sendo paulatinamente cumpridas pela OSX.
Em 2009, o Estado de Santa Catarina e o município de Biguaçu assinaram protocolos de intenção com a OSX para instalar o estaleiro -o que, segundo documento da empresa, indica "apoio e incentivo desses governos em favor do projeto".
A companhia quer começar a operar em 2011. A Fatma diz que não há previsão para concluir o licenciamento. Por entender que o Ibama deveria licenciar o projeto, o Ministério Público recomendou que a Fatma parasse os trabalhos, o que foi negado pelo órgão.

Pastagem
Procurada, a OSX disse que não pode comentar o caso por conta de normas da CVM.
Um relatório da empresa sobre o projeto afirma que o terreno onde seria feita a obra é de pastagens e já foi "previamente alterado pela ação humana".
Afirma ainda que o estaleiro e seu canal de acesso estão fora dos limites das reservas biológicas e sugere medidas para compensar o impacto ambiental. Segundo a OSX, outros três pontos do litoral de SC foram analisados, mas descartados também por questões ambientais ou por falta de espaço.
De acordo com o relatório, o projeto, em operação, criaria 4.000 empregos diretos e outros 4.000 indiretos.
O coordenador regional do Instituto Chico Mendes, Ricardo Castelli, diz que as ações compensatórias sugeridas pela empresa não são suficientes.
Ele diz que o local "não tem vocação" para esse tipo de obra, que pode "gerar riscos irreparáveis a recursos naturais".
A empresa pode contestar as considerações do parecer, que será reavaliado pelo instituto."
(da Agência Folha - por FELIPE BÄCHTOLD e ESTELITA HASS CARAZZAI)

Não me sai da cabeça...

"Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Tudo que não me deixa em paz

Quais são as cores e as coisas pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei

Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?"
(Herbert Vianna)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Nunca mates teu sonho.
Sempre roubes um beijo.
Ames com liberdade...
Prometas apenas ser feliz.

A vida em slow

"Nem a encrenqueira Jabulani, nem o performático Maradona, nem a justa vibração espanhola. O que mais atraiu minha atenção na Copa que passou (e não se fala mais nisso, prometo) foram as cenas em slow motion. Aliás, very slow, passando a sensação de que a vida pode ser delicada em qualquer circunstância. Até mesmo o atrito violento entre os corpos ganhava suavidade e nada parecia doer. Nada. Não há quem não se deslumbre com imagens repousantes nesse mundo que, quando em rotação normal, é frenético demais.
Sempre fui fascinada por cenas em câmera lenta, principalmente quando utilizada para buscar poesia onde nem pressupomos que ela exista. Em cenas de guerra, por exemplo. Lembro de um filme que mostrava em slow os soldados sendo atingidos por granadas, voando junto com os estilhaços ao som de rock pesado. Brutalidade embrulhada em papel de seda. Clichê ou não, funciona.
Tanto funciona que ficamos naturalmente fascinados pelas poucas coisas da vida que são slow ao natural, a olho nu. Você já reparou?
Ondas, por exemplo, jamais são apressadas. Elas se formam com vagar, como se soubessem que participam de um espetáculo, e depois quebram demoradamente, fechando-se em si mesmas, femininas, recatadas, soltando sua espuma e suas gotas em uma coreografia ensaiada que sempre extasia. Na beira da praia ou em alto mar, em dia de calmaria e mesmo em dia de fúria, as águas nunca são aceleradas, elas sabem que são donas de um raro efeito especial.
A mesma coisa com transporte aéreo. A cidade pode estar em velocidade máxima, os carros zunindo pela avenida, pessoas correndo de um lado para o outro nas ruas, e então surge aquela espaçonave branca atravessando o céu, decolando ou aterrissando, num ritmo tão lento que custamos a acreditar que consiga se manter no ar sem despencar. Não despencam. Nem disparam. Mantém-se em slow. Planam, como pássaros que também são.
As girafas não impressionam apenas pelo tamanho incomum do pescoço, mas porque caminham num molejo baiano, não acompanham o frenesi da selva, não possuem pressa para nada, são majestosamente demoradas, assim como os polvos, que ganharam surpreendente notoriedade esse ano.
Não ter urgência, meditar como um buda, praticar thai chi chuan. Me corrija se eu estiver errada: a paciência é o sentimento mais slow motion que existe.
O fogo da lareira, a chama da vela, a fumaça do cigarro, a tragada: a vida queima em marcha lenta.
Os domingos caudalosos. O beijo apaixonado, deliciosamente arrastado... assim como as reticências...
E fim de brandura. O resto é vida veloz."

sábado, 17 de julho de 2010

Flaubert

"Por mais que digamos, as recordações não povoam
a nossa solidão;
pelo contrário, aumentam-na." 
“A linguagem é como uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos,
ou dedos na ponta das palavras.”

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Clarice

Beth Goulart dando vida a Clarice
No TAC, em Floripa, fim do mês
Imperdível!

Diálogo

Ela: Preliminares são fundamentais...
Ele: Sinto imensa falta de querer ficar perto de alguém, portanto preliminares soam como música. Pois tanto faz a conotação sexual, a diferença está na vontade do contato.

Diálogos


Ela: AMO Sheakespeare! A montagem de Hamlet pelo Wagner Moura foi perfeita! Mas a minha predileta é Otelo, sem dúvida...
Ele: A minha preferida é Ricardo III. Tenho em livro, DVD, VHS, vi diversas vezes. Inclusive em Londres, em montagem sincretizada,... enfim, ainda neste último domingo assisti ao DVD com o Al Pacino montando a peça e encenando Ricardo III, tenho em casa, é um arraso.
Ela: O Al Pacino em Perfume de Mulher... que espetacular! Vais ter que me emprestar o DVD um dia desses...
Ele: Só assisto contigo, nada de empréstimos. Perderia muito não assistindo contigo. Beijo cinematográfico.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Caio

"Caio era um amante do ser humano. Não conhecia limites nem na sua obra, nem na sua vida pessoal. Não era apenas um bisexual ou um homossexual que tinha 'recaídas' heterossexuais. Ele se apaixonava pelas pessoas: se fosse mulher, mulher, se fosse homem, homem. Ele me dizia: 'Você, que é de Aquário, entende dessas coisas, sua cabeça também não tem fronteiras'." (Pedro Paulo de Sena Madureira, no livro Para sempre teu, p. 26).

Florença

A arte, a Criação e um guarda italiano

"Carro emprestado, frio de trincar os dentes e mapa, tudo perfeito para roteiro italiano, indo por indicação a Firenze. Meu anfitrião Darcy Andreetto garantia que eu não poderia perder, que é meu estilo de lugar, com museus, galerias, arte pelas praças, enfim, aquela coisa toda que ouvimos falar, mas o nome da cidade não me dizia nada.
Dirigidas as muitas e muitas milhas, Milão, montanhas e Firenze e já no quarto do hotel, olhando aqueles folhetos que nunca se olha, limpo os olhos para ter certeza Firenze = Florença. Eu estava na terra do meu xará, o David (ou Davi). Alegria total, agora sim eu concordava com tudo que me diziam sobre a cidade. Os ambientes das praças e fachadas dos prédios nos mostram tudo sobre a preocupação dos governantes do local em embelezamento, ostentação e preservação da cultura. E alguns amantes da arte. As homenagens a escritores em bustos e estátuas percorrem um panorama tão vasto que só podemos admirar mantendo em mente os tantos séculos de criação que estão ali, a idade da cidade e todos os que contribuíram.
Nossa mente de país jovem e no caso da arte quase que recém nascido, primeiramente nos dá uma idéia de “ajuntamento” e que vai sendo vencida pelo encadeamento das histórias contadas pelas obras na praça central. São mitos, guerras e personagens que foram deixando espaço para o surgimento do outro, e os mecenas à seu tempo, pedindo o encadeamento do que estava sendo contado, e aqui e ali com algum personagem da família, com certo resguardo, pois um mortal, por mais quase imortal que fosse, ficaria ridículo ao lado de Hércules. E isto está cuidado em toda parte, não se embatem as figuras artísticas com o dono do poder da hora.
A harmonia de Florença/Firenze é que a arte só brigou para conseguir recursos para manter o artista vivo, e concedeu alguns retratos de família, mas o conjunto é um grande encontro, como bar gigante onde se assentam os seres mitológicos e outros personagens que escreveram e descreveram o mundo até uma época. Em Orlando a Mulher Imortal, de Virgínia Woolf, existe uma conversa entre o senhor do castelo e o poeta, onde o segundo diz que poderia escrever obras e revisar as obras do senhor, desde que com uma pensão paga trimestralmente, que soa em inglês bastante estranho. Acordado isto, o senhor passa às mãos do poeta algumas de suas criações, que são consideradas um lixo. O mordomo pergunta ao senhor: “- O demitimos?” E aqui vai um fundamento que o conjunto de Firenze/Florença me passou, que é esta resposta do senhor: “- Não, faz algum tempo que não escuto alguém me dizer a verdade, mantenha a pensão, mas deixe-o longe.”
A visualização da arte nas praças, naquele conjunto, é um conjunto de verdades sobre a importância dos símbolos artísticos, a estética e a separação do espírito na hora de criar. E a criação nos deixa de presente a história de que havia sobrado um pedregulho num canto da praça, de outros trabalhos realizados, tanto embaraçoso quanto caro para a municipalidade, e Michelangelo resolveu pedir aos vereadores da época aquele pedregulho, e ganhou. Dado seu tamanho, moveu pouco para que pudesse trabalhar, e daquela pedra, em que ele disse que apenas retirou o que não era o personagem saiu o David. Ficou na praça até que invasões fizessem os governantes retirá-lo para local mais seguro, e depois inundações e outros percalços tornaram-no um andarilho. Hoje está firme em um museu e uma réplica na praça. Mas ao olhá-lo ele parece que vai sair andando, a posição dos pés e a flexão dos músculos é de algo em movimento.
E entro no museu, filmadora em punho, olho e não vejo restrições a maquinas e até algumas raras pessoas portanto as suas, e vou filmando. Na frente do gigante de 4 metros de altura uma segurança me alerta, - Desliga que não pode. Daí desligo. E logo em seguida vem um guarda e diz: - Vai, vai pode filmar, só não pode usar flash, vai firme. E liguei e segui filmando, mas,... já mudando de posição e com a máquina muito menos exposta. Passados alguns minutos a segurança avisa de novo – Desliga. Desliguei. E vem o guarda: - Não desliga nada, ela não sabe nada, que problema tem uma filmagem, as pessoas vem de longe e não podem levar uma imagem? Vai, vai. Fui.
E daí que tenho um filme com vários ângulos do meu xará, que me pôs a pensar que Deus poderia ser tão bom escultor como Michelangelo, mas entendo que trabalhar com matéria viva é mais complicado. Das cenas de Mercúrio, de Zeus e os retratos dos da época pode-se ver que a arte estava na estrutura do lugar, e as salas com mapas mostram que era também tempo de descobrir o mundo novo, e com rápida olhada se vê que já não era tão novo lá naqueles tempos e daí um guarda, que não apenas guarda, mas cria em seu espaço limitado uma oportunidade de registro da arte, que é evitado não pelo dano, mas pela diminuição na venda de souvenires na saída. Em Florença/Firenze a arte era paga antes, mantendo o artista vivo e agora faz viver a cidade."
(David Pokorski)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Certeiro!

"As certezas nos mantém apenas onde estamos,
isso se algum outro, que semeie e corra atrás de matá-las,
não nos ultrapasse com suas dúvidas."

Então vem me encher de dúvidas, vem...

Inverno

O frio sempre me remete
ao calor do teu beijo e
ao aconchego do teu abraço...

Hunter

"I want to be a hunter again
I want to see the world alone again
To take a chance on life again
So let me go, let me live, let me go..."
(Dido)
Vem cá, vem?!

Buenos Aires

Antes de ir, buscando informações sobre a cidade, me deparei com essa entrevista concedida pela Maitena à Folha de São Paulo. Seguir algumas das boas dicas valeu a pena!!!
Ei-la:
Folha - O que você recomenda para fazer num dia com sol e num com chuva em Buenos Aires?
Maitena Burundarena - Num dia de chuva, há livrarias magníficas para ir. Uma no bairro Norte, a El Ateneo (Santa Fé com Robamba), fica num lugar onde funcionava um teatro. Ela conserva os palcos superluxuosos, o cenário, onde há um bar, e uma cúpula impressionante. Há todos os tipos de livro, e a seção infantil, com cadeiras e mesas pequenas, é um lugar muito bom para passar um par de horas com as crianças. A duas quadras dali fica a loja de discos Notorious (Callao, 966), onde é possível escutar uns discos interessantes num ambiente muito "cool". Há um bar que dá para um jardim e, em várias noites, há música ao vivo. Outra livraria que recomendo é a Boutique del Libro (Thames, 1.762), em Palermo, cheia de objetos, edições especiais e livros para os que os amam.
Num dia de sol, iria passear pela Recoleta, pelo cemitério e pelos parques, passando pela feira de artesanato. Almoçaria em Puerto Madero, em algum restaurante com vista para a ponte de Calatrava (fomos ao Il Gato). À tarde, iria a San Telmo, o bairro colonial, cheio de antiquários e de ruelas de pedras. Se fosse um domingo, comeria no Telmo Bar (Carlos Calvo com Bolivar), uma pequena pensão, baratíssima, onde são feitos uns malfatti de espinafre gloriosos. Outros restaurantes de que gosto são o Oviedo (Olazábal, 5.501), onde se come como os deuses, em um ambiente bastante informal, mas muito elegante, e o Sifones & Dragones (Ciudad de la Paz, 174), que só tem quatro mesas, com cozinha à vista, ao lado da mesa, show de cozinheiros e uma carta de vinhos muito moderna. É um lugar especial. O Green Bamboo (Costa Rica, 5.802) serve pratos orientais sofisticados e belíssimos e sucos de frutas exóticas, num ambiente escuro e misterioso.

Folha - Os roteiros para homem e mulher seriam diferentes?
Maitena - Não, não seriam passeios diferentes, a não ser para sair às compras, não? O passeio depende muito da característica de cada um. Algumas pessoas eu levaria a um museu, como o Malba (Figueroa Alcorta 3.415), que é ótimo (fomos também no Museu de Arte Decorativa em Palermo); outros, ao hipódromo de Buenos Aires, que é fantástico. Ou ao estádio da Boca, para ver uma partida emocionante. Outros, poderia levar ao Parque Japonês, para caminhar sobre pontes vermelhos e alimentar os peixes, ou à reserva ecológica e andar de bicicleta ao lado do rio. O zoológico de Buenos Aires também é muito lindo e está no meio da cidade.

Folha - Que suvenir você indicaria para levar de lembrança?
Maitena - Depende. Minha loja preferida é a Tramando (Rodriguez Peña com Posadas), de pesquisa têxtil e moda de um nível criativo altíssimo. Virando a rua, Perez Sanz trabalha com metais e pedras e faz umas peças incríveis. Desde jóias até cintos, tudo com um talento bárbaro. A Calma Chicha (Honduras, 4.925), em Palermo, tem objetos divertidos para casa, de todos os preços. Finalmente, uma boa garrafa de vinho de Mendoza, algum Catena Zapata, é sempre uma boa lembrança.

Folha - O que você faria com um amigo que não comesse parrilla?
Maitena - Levaria para comer na Dominga (Honduras, 5.618), que tem de tudo. E, se não quiser comer nada, pode tomar uma boa bebida e se divertir somente olhando as pessoas.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Naqueles poucos momentos se permitiu ser
observada
admirada
desejada
elogiada
acarinhada
amada
... em silêncio...
E gostou da entrega.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sentiu a brisa do mar
e lembrou o quanto de si
havia naquele lugar...
“Quem tem dois corações
Me faça presente de um
Que eu já fui dono de dois
E já não tenho nenhum

Dá-me beijos dá-me tantos
Que enleado em teus encantos
Preso nos abraços teus
Eu não sinta a própria vida
Nem minh’alma ave perdida
No azul amor dos teus céus

Botão de rosa menina
Carinhosa, pequenina
Corpinho de tentação
Vem morar na minha vida
Dá em ti terna guarida
Ao meu pobre coração
Quando passo um dia inteiro
Sem ver o meu amorzinho
Cobre-me um frio de janeiro
No junho do meu carinho”
(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

E termina...

"Como termina um amor? O quê? Termina? Em suma, ninguém - exceto os outros - sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada e vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar. Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo não posso construir até o fim minha história de amor: sou o poeta apenas do começo; o final dessa história, assim como minha própria morte, pertence aos outros. Eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica." (Roland Barthes em Fragmentos do Discurso Amoroso).

Porque o finde está chegando...


DELÍCIA DE UVA ITÁLIA


INGREDIENTES
1 lata de leite condensado
1 lata de creme de leite
2 gemas
1 lata de leite de vaca
200g de chocolate ao leite
200g de chocolate meio-amargo

MODO DE FAZER
Colocar em uma panela o leite condensado, o leite de vaca e as gemas. Levar ao fogo, mexendo bem até engrossar. Colocar em um marinex médio e deixar esfriar.
Derreta o chocolate em banho-maria depois esfrie um pouco e acrescente o creme de leite mexendo delicadamente.
Sobre o creme feito com leite condensado, coloque as uvas itália (que já foram limpas num paninho com álcool) forrando todo o creme.
Por último coloque o chocolate.
(Podem ser usados morangos no lugar das uvas).

Diálogos I

Ele: nada do que você me disser vai apagar isso que tá aqui no meu peito! Nem no que tá aí no teu...
Ela: e nada que vc me disser será suficiente... o meu coração foi ferido... e nem consideraste que eras tu aqui dentro.
Ele: e tu achas mesmo que não me senti igualmente ferido?
Ela: por mim não foi... pela primeira vez dei o que há de melhor em mim e sem sequer saber onde estava pisando
Ele: e agora eu não consigo nem dar o pior de mim... tudo ficou guardado naquele dia. Se me encontrares por aí, não precisa devolver, porque não quero devolver o que ficou de ti em mim.
Ela: ...
Ele: Por enquanto só posso dizer que te amo, e tu sabes o quanto, ainda que teime em afirmar e sentir o contrário.
Ela: não é apenas uma questão de amor, é de atitude.
Ele: é o descompasso entre sentimento e ação... vc tem razão.

Infelizmente, nem sempre conseguimos que dancem (sentimento e ação) o mesmo ritmo...

Perdão

"Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora."
(Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa")
"O tempo é muito lento para os que esperam,
muito rápido para os que têm medo,
muito longo para os que lamentam,
muito curto para os que festejam.
Mas, para os que amam, o tempo é uma eternidade..."
(William Shakespeare).

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Porque era insuportável a oposição entre uma vida morna e a memória de Luísa. Com Luísa, nada podia ser morno. Eu sorria, ela sorria. Éramos dois adversários à altura. Dois lutadores sempre prontos para o combate, com ligeiras tréguas de vez em quando, paradas necessárias para tomar fôlego e recomeçar. E eu sempre tinha forças. Minha resistência era inesgotável com Luísa, apesar de o jogo ser quase sempre duro, arriscado, quase mortal. Disse quase sempre porque havia momentos em que Luísa se tornava suave e vulnerável. E, nesses momentos em que ela era de fato imbatível, as minhas mãos percorriam seu rosto, e eu implorava que ela fizesse eterno aquele abandono. Nesses momentos de Luísa, eu era tão feliz que tinha vontade de chorar."
(Maria Adelaide Amaral em Luísa)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Não há nada que fuja à percepção depois de algumas taças de vinho ou champã.
Os interlocutores se mostram e se observam com acuidade.
Tudo fica claro.
Aberto.
Exposto.
O que cada um faz depois disso pode variar
No que se pretende.
Na forma.
Na intensidade.
Mas é só.
"...mesmo que você feche os ouvidos e as janelas do vestido,
minha musa,vais cair em tentação..."
(Chico Buarque)
Havia algo de peculiar nele.
E era como um enigma pra ela.
Queria ficar parada decifrando a esfinge.
Impassível.
Ocorre que não tinham tempo.
E esse é o prazer das pequenas coisas.
Então limitavam-se a um encontro superficial.
Pele e gozo.
Satisfazia a ele.
Não a saciava.

Sentimentalidades

"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"
(Eça de Queiroz em O primo Basílio)

Rapidinhas

Uma amiga, com quem insisto muito para que se junte a nós, mandou ontem... Amei e dou de graças pra vocês! Valeu, Fer!

Criança
"Só é feliz a pessoa que se orgulha enternecidamente de sua infância."

Cigarro
"Quem não fuma aproveita a vida. Quem fuma aproveita-se da vida."

Páscoa
"Sempre vinha um coelho de chocolate. Mas meus olhos brilhavam quando eu topava com os ovos de açúcar que se faziam antigamente, todos enfeitados. Durava no máximo dois dias o meu ninho de Páscoa. No terceiro dia, eu ainda dava bicadas no ninho do meu irmão."

Doces
"Como renunciar hoje, mesmo diabético, aos papos de anjo com calda ou úmidos, um cravo de corolário, aos ovos-moles ou baba de moça, aos olhos de sogra preparados como em ourivesaria por minha madrasta? Dizem que nada tem a ver o diabetes com essa volúpia por doces, mas eu não acredito nisso, eu imagino que esta doença é uma punição pela gula glicêmica."

Defeitos
"O meu principal defeito é ser desatencioso. Me falta o método sentimental de ir ao encontro dos meus melhores afetos."

Aniversário
"Os meus 70 anos serviram indiscutivelmente como uma linha divisória na minha vida. Daqui por diante, tenho o dever de ser mais amorável com os outros. Vida, eu que tanto te amaldiçoei, declaro solenemente agora que te amo."

Morte
"Quando eu morrer, quero à beira da sepultura todos os meus amigos e alguns dos meus inimigos arrependidos. Depois dos risos e lágrimas, voltem para casa e nunca mais se esqueçam de mim."

E, pra matar:

Bipolaridade

"Confesso uma intimidade: sou bipolar. E acrescento: desconfiem de todos os unipolares. Eles são pessoas de uma ideia só, de um emprego só, de um sentimento só, de uma mulher só, de uma fonte de renda só e de uma solidão de dar dó." (Paulo Sant'ana em Eis o Homem) 


Aproprie-se de todas as suas faces!

Quem embalou a noite



Dido - Want to thank you!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Encontros

Encontraram-se casualmente.
Sorte.
Conversaram durante horas.
Prazer.
Reconheceram um ao outro nos gostos, prazeres e experiências.
Raridade.
Só queriam que o dia voasse para que pudessem conversar novamente.
Vontade.
Estar juntos o tempo todo, o dia inteiro.
Necessidade.
Combinaram o encontro.
Ansiedade.
Os olhos se cruzaram.
Carinho.
Os corpos se tocaram.
Arrepio.
Conversaram ainda mais. Beberam e riram finalmente juntos.
Afinidade.
Estavam lado a lado.
Felicidade.
Aproximaram-se novamente e os lábios se acariciaram.
Desejo.
Saíram juntos sem se importar pra onde...

Nada

Na doçura do teu pensamento
Viajo por algum tempo

Nas longas histórias contadas
Recebes de volta minhas risadas

Nos dias tempestuosos, de redemoinhos
Teu conforto nos meus carinhos

Nas observações a meu respeito
Atenta, ouço, me deleito.

Não há nada entre nós que não tenha sido dito.
Não há nada entre nós a esconder.
Não há nada entre nós.

Tatuagem

"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço
Quero pesar feito cruz nas tuas coisas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mãe
Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes."

(Chico Buarque e Ruy Guerra)

Fragmento 6

Estás partindo de mim
e eu pressinto que me partes,
e partindo, em ti me vai levando,
como eu que fico
e em mim vou te criando.

Tanto mais tu me despedes
e te alongas,
tanto mais em mim vou te buscando
e me alongando,
tanto mais em mim vou te compondo
e com a lembrança de teu ser
me conformando.

Estás partindo de mim
e eu pressinto
na verdade, há muito que partias,
há muito que eu consinto
que tu partas como um mito..

Mas não és a única que partes
nem eu o único que fico:
sei que juntos e contrários
nos partimos:
pois tanto mais nos desencontros nos revemos,
tanto mais nas despedidas consentimos.

domingo, 4 de julho de 2010

Cuide bem do seu amor

"(...) Antes de você partir para o descanso, para a viagem, para o lazer, para a gandaia que seja, gostaria de aproveitar o momento, em que sua mente, ou ao menos seu coração, já não está mais aí no mundo do trabalho, para lhe dizer o seguinte: cuide bem do seu amor. (Thanks, Herbert.) Eu sou um cara quadrado, coxinha, em diversos aspectos da minha vida. Um deles, como trato a mim mesmo na posição de pai de família. Levo isso a sério. Talvez até demais. É muito importante para mim ser um bom pai, um bom marido e um bom provedor. Parafraseando o ditado de "quem tem, tem medo", eu diria que quem não teve do jeito que gostaria sabe a falta que faz.
No entanto, percebi com clareza esses dias o enorme risco que há em investir tudo no trabalho e nos filhos. Ou seja: fazer a coisa certa aí, em demasia, significa fazer a coisa de modo errado. É bacana ser um homem responsável, gerar as melhores condições possíveis para a sua família. No entanto, se pautar somente por isso é um equívoco. Focar toda a sua atenção e a sua energia na rota trabalho/casa, casa/trabalho, é uma armadilha. E por quê? Porque aí a sua mulher vira esposa. A sua namorada vira mãe do seus filhos. Você deixa de ser amante para virar marido. Quando você se dá conta, está chamando a sua mulher de "mamãe" e ela está se referindo a você como "papai", de modo sonolento, sedado, cansado. Sua cama de casal vira um lugar para aninhar os filhos e não mais para dar vazão a sua libido. (Não é todo mundo que consegue rodar esses dois filmes antagônicos na mesma locação.)
A arapuca que se coloca aí, travestida de correção, de comportamento respeitável e consequente, é trocar a relação original com a sua mulher, de macho/fêmea, composta de tesão, atração, admiração, desejo, por uma relação funcional de parenting, em que o dating morre, em que não há mais a idéia da dupla, mas sim uma regra inquebrantável que sempre prevê 3, 4, 5, qualquer que seja o número total das pessoas que você tem em casa. Por uma relação que a emoção dá lugar a um arranjo racional e insosso das coisas. Em que o sexo e a sensualidade vão sendo religiosamente solapados no dia a dia. Jogue isso no tempo e depois de 15, 20 anos, você não terá mais nada. Nenhum vestígio do sentimento original, da alegria dos primeiros tempos, daquela felicidade inefável de estar junto, de simplesmente ficar perto dela. Ou dele. Um dia seus filhos saem de casa. Afinal, eles, mais do que ninguém, estão só passando pela sua casa, estão sempre no movimento de partir do seu recôndito familiar em direção ao mundo lá fora e à vida que vão construir sozinhos. E você se encontrará com uma estranha dentro de casa. E vocês se verão com um abismo entre si. Feito de silêncios, de falta de cumplicidade, de inapetência, de papéis que caducaram, de ausência de um sentimento que, de tão maltratado, resolveu se mudar dali há muito tempo.
Portanto, eis o que tenho a dizer: nutra o relacionamento com a sua mulher. Ou com o seu marido. É preciso conquistá-la todo dia. Crie momentos exclusivos, reserve tempo e atenção, saia da rotina, seduza, invista na magia e na paixão. Porque tudo isso, que é alicerce, que é motor, pode acabar num tapa. (Às vezes, literalmente)."

Por Adriano Silva

Retirado blog Manual do executivo:
http://portalexame.abril.com.br/rede-de-blogs/manual-do-executivo-ingenuo/
"Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma outra alegria além de ti. Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara."

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Gutierrez

"[...]
'O rum nos subiu à cabeça e nos ofendemos mais. Muito mais. Enfim ela me expulsou e disse que não queria me ver nunca mais.'
O trecho acima foi tirado de Trilogia Suja de Havana, uma fantástica coletânea de pequenas crônicas autobiográficas escritas por Pedro Juan Gutiérrez, 53 anos, elogiadíssimo escritor cubano que apareceu para o mundo nos anos 90. Assim como Bukowski, a quem cita em pelo menos duas crônicas, ele é mestre em descrever a vida dos fodidos. E fodido o que não falta na Cuba dos anos 90, após o fim da cascata de dinheiro que pingava da União Soviética.
A escrita de Gutiérrez é crua, dura e sem eufemismos, como mostra o trecho acima, tirado ao acaso. Suas histórias são coesas, verossímeis e acima de tudo vivas, escritas com coração, com vida, com sangue — e outros fluidos, como ele mesmo diz em outro trecho:
'Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líqüidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou é ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia estéril do que poderia ser. Nada.'
Jornalista de profissão, Gutiérrez sabe do que está falando: trabalhou desde os 11 anos em dezenas de sub-empregos, de vendedor de sorvetes a pedreiro, passando por cortador de cana e instrutor de natação. Viveu a realidade dos ferrados em Cuba, mas nem por isso se mostra revoltado com os rumos tomados pelo governo de Fidel — tampouco esperançoso. Para ele e todos os seus personagens, não existe planejamento, futuro, projeto de vida: o que importa é sobreviver. Sonhos? O maior é uma passagem só de ida para Miami, mas a maioria se contenta com alguns dólares, um rum meia-sola, um frango assado com fritas e uma noite de sexo. Se os personagens são assim, a escrita não pode ser diferente. Gutiérrez diz que seu ofício real é 'revolvedor de merda', não tem esperanças de encontrar 'um brilhante' dentro dessa merda, promete escrever sem mentiras, e diz que a arte só serve se for 'irreverente, atormentada, cheia de pesadelos e desespero'. Diz ainda que abandonou o jornalismo porque, cansado de eufemismos, resolveu optar pela crueza:
'Em tempos tão dilacerados não se pode escrever com suavidade. Sem delicadezas a nossa volta, impossível fabricar textos refinados. Escrevo para cutucar um pouco e obrigar os outros a cheirar merda. É preciso baixar o focinho até o chão e cheirar a merda'."

(Estava nos meus alfarrábios e não, não lembro de quem é... se alguém souber a autoria, favor avisar... rs)

Frágil

"Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.”

Da Justiça à Democracia, passando pelos sinos

"Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.
Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à proteção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exato tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem exceção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exato e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em ação, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.
Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objetivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e ação social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protetora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações. Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinqüenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenho dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a retidão de princípios e clareza de objetivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo atual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-me nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em conseqüência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização econômica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização econômica.
E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingênuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efetivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que atualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de ação democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder econômico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos fatos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e atuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder econômico, com a objetiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes...
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder econômico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor."

Ou, como bem disse John Donne: “não pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ti..."

Can't take my eyes off of you

O Ruy, outro dia, começou uma postagem com:
"You're ('It's', na verdade) just too good to be true..."

E eu fiquei esperando continuar... rs... mas seguiu por outros caminhos... Reclamei a ele e desde então estou com a música na cabeça:

%Can't take my eyes off of you
You'd be like heaven to touch
OOOh, I wanna hold you so much
At long last love has arrived
And I thank God I'm alive
You're just too good to be true
Can't take my eyes off of you%

Achei que ele falaria dos bailes... e de como se dançava antigamente... de como era assim que os casaisinhos se formavam... Tudo bem, realmente também não sou dessa época, mas reconheço que havia um glamour, um clima que não se vê mais hoje... assim como não se fazem mais músicas como essa... é uma pena...
Mas até que deu pr'eu curtir um pouco...
Bem, deixa pra lá... aproveitemos, pois, o que ficou...

%I love you baaaaaby and if it's quite all right,
I need you baby, to warm the lonely night
I love you baby, trust in me when I saaaay
Oh pretty baaaaby, don't bring me down I pray,
Oh, pretty baby, now that I found you, stay
And let me loooove you baby, let me lo-ve yoooou%

Ai, ai... até me fez lembrar os bailes de debutantes das minhas primas mais novas, no Clube Atlético Alvorada, em Gaspar! (Não riam!)
rsrsrsrs
Se você realmente acha que não há nada mais seguro
do que "andar na linha"...