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'O rum nos subiu à cabeça e nos ofendemos mais. Muito mais. Enfim ela me expulsou e disse que não queria me ver nunca mais.'
O trecho acima foi tirado de Trilogia Suja de Havana, uma fantástica coletânea de pequenas crônicas autobiográficas escritas por Pedro Juan Gutiérrez, 53 anos, elogiadíssimo escritor cubano que apareceu para o mundo nos anos 90. Assim como Bukowski, a quem cita em pelo menos duas crônicas, ele é mestre em descrever a vida dos fodidos. E fodido o que não falta na Cuba dos anos 90, após o fim da cascata de dinheiro que pingava da União Soviética.
A escrita de Gutiérrez é crua, dura e sem eufemismos, como mostra o trecho acima, tirado ao acaso. Suas histórias são coesas, verossímeis e acima de tudo vivas, escritas com coração, com vida, com sangue — e outros fluidos, como ele mesmo diz em outro trecho:
'Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líqüidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou é ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia estéril do que poderia ser. Nada.'
Jornalista de profissão, Gutiérrez sabe do que está falando: trabalhou desde os 11 anos em dezenas de sub-empregos, de vendedor de sorvetes a pedreiro, passando por cortador de cana e instrutor de natação. Viveu a realidade dos ferrados em Cuba, mas nem por isso se mostra revoltado com os rumos tomados pelo governo de Fidel — tampouco esperançoso. Para ele e todos os seus personagens, não existe planejamento, futuro, projeto de vida: o que importa é sobreviver. Sonhos? O maior é uma passagem só de ida para Miami, mas a maioria se contenta com alguns dólares, um rum meia-sola, um frango assado com fritas e uma noite de sexo. Se os personagens são assim, a escrita não pode ser diferente. Gutiérrez diz que seu ofício real é 'revolvedor de merda', não tem esperanças de encontrar 'um brilhante' dentro dessa merda, promete escrever sem mentiras, e diz que a arte só serve se for 'irreverente, atormentada, cheia de pesadelos e desespero'. Diz ainda que abandonou o jornalismo porque, cansado de eufemismos, resolveu optar pela crueza:
'Em tempos tão dilacerados não se pode escrever com suavidade. Sem delicadezas a nossa volta, impossível fabricar textos refinados. Escrevo para cutucar um pouco e obrigar os outros a cheirar merda. É preciso baixar o focinho até o chão e cheirar a merda'."
(Estava nos meus alfarrábios e não, não lembro de quem é... se alguém souber a autoria, favor avisar... rs)
O único Gutierrez que eu conhecia é um rapper carioca e tem muito de parecido com esse daí, como dá pra ver aqui http://migre.me/TWoP
ResponderExcluir=x
Ótimo findi, flor :*
Nossa, nossa! Esse cara é foda mesmo! Mas, não sei não,Lú, aquela visão dele do intercurso sexual me lembrou uma mistura do cio da Lili, minha ex-cadela, com a manteiga do Marlon Brando, do último Tango... um pouquinho de poesia não higieniza o contato, mas nos passa ao menos a confiança de que a parceira não vai encher nossa cama de puga!
ResponderExcluirBeijos
gargalhadas
ResponderExcluirOu o parceiro!
Pelo menos te cutucou... e eu poderia discorrer sobre isso por hooooras... mas acho melhor não... rs
Beijos!
Grazy, estou até agora tentando abrir o link sem êxito! Agora não sei se gostaste ou não.
ResponderExcluir:D
Bom finde pra ti tb, amada!
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