Mostrando postagens com marcador Pedro Juan Gutierrez. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pedro Juan Gutierrez. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de maio de 2011

"Agora estava treinando para não levar nada a sério. O homem pode cometer muitos erros pequenos, e não tem importância. Mas se os erros são grandes e pesam em sua vida, a única coisa que ele pode fazer é não se levar a sério. Só assim evita sofrer. O sofrimento prolongado pode ser mortal."
(em A Lembrança da Ternura, do Trilogia Suja de Havana)

sábado, 7 de maio de 2011

"Minha vida se dispersa continuamente. Como um rio que sai do leito e transborda sobre a terra. Então, tenho de abandonar muitas coisas e pensar no que é útil e bom. Só assim controlo as águas e as faço voltar ao seu leito. É como um pêndulo. Foi sempre assim. Já me acostumei a viver com essas inundações que arrasam tudo, e depois a calma,o controle, a solidão, o silêncio. É como uma longa aprendizagem. Infinita. Desconfio que nunca se concluirá."
(em Sobreviva que Pode)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ideias

"Não posso esperar que alguém me dê a liberdade. A liberdade tem de ser construída por nós mesmos. Como? Cada qual tem de descobrir por si só. Minha liberdade eu construo escrevendo, pintando, mantendo a minha visão simples do mundo, espreitando na selva como um animal, impedindo as intromissões na minha vida privada. O essencial para o homem é a liberdade. Interior e exterior. Atrever-se a ser você mesmo em qualquer circunstância e lugar. A liberdade é como a felicidade: não chega nunca. Nunca se tem completa. É só um caminho. A gente caminha atrás da liberdade e da felicidade. E assim se vive. É só a isso que se pode aspirar."

"Quem inventa as proibições? Alguém inventa por conveniência própria e decide por você: ¨Pode fazer isto, não pode fazer aquilo. Aquele outro faz mal. A moral é isto e o imoral¨…ah, já me foderam muito a vida com leis e proibições e ordens. Me encheram o saco com essas histórias de moral, de ética, do correto, do incorreto. E você enfim descobre que esses senhores vivem como deuses do Olimpo e dissipam tudo no meio do luxo. Mas fazem tudo em segredo, para que ninguém veja, e em público continuam fazendo promessas e o futuro será melhor."

"Muitas vezes o sujeito tenta mudar a vida, ter mais controle, prever alguma coisa. Saber as consequências de uma decisão. Mas não. Somos como essas formigas loucas que correm no jardim e tropeçam umas nas outras, perdendo o rumo uma vez ou outra."
(Pedro Juan Gutierrez em Animal Tropical)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O mundo aos olhos do "Animal Tropical"

"EM ALGUMAS igrejas de Roma, as pessoas que querem se confessar colocam moedas numa máquina e falam de seus pecados. Quando terminam, a máquina lhes impõe a penitência que possibilita expiar suas culpas.
Num hospital das Ilhas Canárias, alguns atendimentos aos pacientes são feitos por robôs, embora se saiba perfeitamente que um doente necessita do cuidado e do contato humano, que pode ser tão importante quanto - ou mais do que - os medicamentos. A lista poderia ser interminável. Todo dia, as máquinas invadem mais territórios humanos. E conseguem separar ou isolar mais as pessoas. Cada um se encápsula em sua pequena galáxia e tenta esquecer o resto.
Há explicações sociológicas bem convincentes para esta universalização da solidão. Mas eu diria que é mais um tema europeu e norte-americano. Um assunto típico dos países ricos. A solidão metafísica que todos sentimos alguma vez e que, inclusive, buscamos e desejamos, de tempos em tempos, é outra coisa, inerente à natureza humana mais profunda.
Falo da solidão que não se deseja. Da solidão doentia, típica da modernidade. Tenho tido a sorte de viajar pela Europa nos últimos 25 anos e me senti mordido ferozmente pela solidão na Suécia e na Alemanha, que, por acaso, são dois dos países mais ricos do mundo.
Ante essa solidão corrosiva a gente se sente indefeso e, então, sai em busca de companhia. E nem sempre se encontra com outra pessoa, porque cada um está encapsulado em sua própria caverna, ocupado em ganhar dinheiro ou seja lá o que for. Então, que se pode fazer? Como escapo da solidão que me inunda em seu silêncio deprimente?
Não quero falar da Suécia, porque em meu romance Animal tropical respondo a essa pergunta. Mas há uma pequena cidade da Saxônia, no sudeste da Alemanha, que visito anualmente no verão. Chama-se Chemnitz e é uma cidade antiqüíssima. Por ali passava a Rota do Sal na Idade Média. Me hospedo na casa de um amigo, pintor e escultor e, na maior parte do tempo, fico sozinho. Ouço música, pinto, vejo filmes pornô e os canais internacionais e revejo vez por outra as inscrições antigas em um lapidarium que fica a dois passos da casa. Também visito à tarde o bar Bukowski e porno-shops. Bebo uma dose de uísque e às vezes olho as fotos de Bukowski nas paredes. Fico entediado. Saio e olho de longe as putas alemãs e polacas que pululam lá fora, em frente às porno-shops. Não poderia me deitar com nenhuma delas, nem que me pagassem muito bem - tenho alma e vocação de dono, jamais de cliente - porque me parecem demasiadamente incolores e insípidas para meu gosto. Depois, continuo caminhando e vou a uma enorme área onde vendem carros usados muito atraentes, com apenas 40 mil quilômetros rodados e preços em torno de US$ 500. Assim passo o dia. Sem falar. Às vezes, de noite, encontro meu amigo em casa e conversamos um pouquinho. Bebemos vinho, fumamos tabaco cubano, ouvimos salsa cubana, recordamos as mulatas cubanas e sofremos saudade de Cuba. ''Sou alemão de nascimento, italiano pelo sangue paterno e cubano de coração'', diz meu amigo.
Isso é tudo. Resisto um mês ou pouco mais a essa monotonia e me parece um ano. Às vezes consigo afinal vender alguns quadros e em seguida regresso à pequena casa.
Na Suécia, na Noruega, tem sido pior ainda esta sensação de que sou um átomo absolutamente solitário vagando na atmosfera do planeta, flutuando no ar."

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Hombre que olfatea a su mujer

"Yo estoy construido con los colmillos
de la serpiente
y el aullido del lobo
y el brillo del pez
y la astucia del tigre
y la potencia del toro
Yo soy un relincho salvaje
de los dioses
y un corazón de cordero
de donde mana sangre roja y caliente
Yo soy ese hombre que atraviesa
la ciudad para mirarte a los ojos
y oler tu piel y respirar profundamente
y meterse dentro de ti
hasta tocar tus huesos
y decirte
esto es todo lo que puedo hacer"

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ciúmes

E outras tantas que sempre me intrigaram porque realmente acho que não sei o que significam. Sim, eu também acho esquisito, mas numa relação amorosa, como homem e mulher, não sinto. E, pelo senso comum, o normal seria sentí-lo.

"Enfim, esses ciúmes de mulher. Que eu nunca entendo porque são polvilhados de um egoísmo vulgar, de bolero barato. Só se deve ter ciúme do que vale a pena, do que é verdadeiramente importante. Não devemos desgastar-nos sentindo ciúme de tudo. Mas as mulheres não pensam assim. São capazes de sentir ciúme ao mesmo tempo e com igual intensidade e veemência do marido, do amante, e de dois namorados. Têm muita habilidade para a vida. Ou muito sentido pragmático."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sedução

"Sou um sedutor. Eu sei. Assim como existem os alcoólicos irrecuperáveis, os jogadores, os viciados em cafeína, em nicotina, em maconha, os cleptomaníacos etcétera, sou viciado em sedução. Às vezes o anjinho que tenho dentro de mim tenta me controlar e diz assim: 'Não seja tão filho-da-puta, Pedrito. Não percebe que está fazendo essas mulheres sofrerem?'. Mas aí aparece o diabinho e o contradiz: 'Vá em frente. Elas ficam felizes assim, nem que seja só por um tempo. E você também fica feliz. Não se sinta culpado'.
É um vício. Sei que a sedução é um vício igual a outro qualquer. E não existe nenhum Sedutores Anônimos. Se existisse, talvez pudessem fazer algo por mim. Se bem que não tenho certeza. Seguramente eu inventaria pretextos para não comparecer a suas sessões e ter de ficar lá na caradura na frente de todo mundo, botar a mão na Bíblia e dizer serenamente: 'Meu nome é Pedro Juan. Sou um sedutor. E faz hoje vinte e sete dias que não seduzo ninguém'."

domingo, 22 de agosto de 2010

Num domingo à tarde...

"Nus em cima da cama, suando, eu em cima dela. Estava me recuperando de um orgasmo selvagem. [...]. Acariciei e beijei Isabel com muita ternura e cantei baixinho:

...pasarán más de mil años,
mucho más,
yo no sé si tenga amor la eternidad,
pero allá tal como aquí
en la boca llevarás
sabor a mí.
(... passarão mais de mil anos/muito mais,/eu não sei se tem amor na eternidade,/mas lá tal como aqui/na tua boca sentirás/o meu sabor)

- Não faz tanto carinho, Pedro Juan, não abusa de mim.
- Não precisa de um pouquinho de carinho?
- Preciso de um carinho há muito tempo.
- Eu também.
- Não quero mais sofrer, 'papito'. Se eu me apaixono, depois é uma encrenca só.
- É, é verdade.
Eu me virei de lado:
- Porra, que suadouro.
Ela se levantou e se vestiu:
- Abre a porta. Estamos nos assando aqui dentro. E me dá os lençóis e aquela toalha pra lavar. Você está virando um porquinho.
Abri a porta. Isabel saiu para o terraço e voltou para as panelas.
Vesti uma bermuda e me sentei na soleira da porta. Havia uma brisa fresca. Agora a coisa está começando, mas tenho medo dessa mulata. É puta e romântica e gosta de mim. Uma combinação perfeita demais. E nenhum dos dois quer se complicar. Para que procurar mais confusão? Bastam as que já temos.
(Pedro Juan Gutierrez em Trilogia Suja de Havana)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Na boca do lobo

"Alguns de meus melhores amigos
os mais honrados e honestos
suicidaram-se
Não seguraram a barra
Algumas de minhas mulheres
as mais doces e suaves
tornaram-se azedas e corrosivas
Estou na boca do lobo
e não sei o que fazer
tento apenas ganhar tempo
Pode ser instinto de preservação
O fantasma de Kaváfis
A influência da lua
Escuto cantos gregorianos
no crepúsculo
com um charuto
e uma garrafa de rum nas mãos
olho para o mar
O nojo e a merda se dissolvem
na luz dourada
E minha mulher
que limpa a casa
alheia a tudo
me diz ‘não beba sozinho
me traz uma dose
com mel e limão’."