segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Clarice


Há algumas semanas assisti à entrevista com o autor da biografia,
Benjamin Moser (colunista da Hapers Magazine e crítico do New York Review of Books),
no Manhattan Connection.
Acabou de ser lançado no Brasil.
Acho que vale a pena!
Depois de ler o meu, venho comentar aqui...

O que sempre volta...


Hoje estou naqueles dias, não cabendo em mim....
com as velhas e conhecidas sensações...
A vida é curta e estou fazendo pouco.
Queria largar tudo e ir cursar gastronomia.
Entrar em todas as aulas de idioma possíveis.
Sair caminhando sem destino pra ver onde ele me levaria.
Colocar uma mochila nas costas e ir conhecer o mundo todo.
Saber muito de tudo e não de tudo um pouco.
Porque nos confortamos numa vida medíocre?!
Queremos tanto crescer e depois, chegando aqui,
nos perguntamos: “Tá, é isso aí?!
Muitas obrigações,
muitas preocupações,
muitas responsabilidades e pouco prazer.
E as pessoas andam tão ensimesmadas!
É tão difícil ter com quem conversar! – alguém que valha a pena, claro.
Não sei o porquê, mas agora lembrei de Drumond:


“Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”


Não encontro muitos companheiros, isso me faz silenciosa.
Não tenho grandes esperanças (aliás, assistam Great Expectations, baseado na obra do Dickens, imperdível!).
A realidade é dura e a troca está escassa, é um fato.
Porque tudo é volátil demais, efêmero demais, ninguém pára (tá, não me conformo com a queda desse acento diferencial, especificamente) para o prazer da degustação, não se conjuga o verbo deleitar.
Então, quem tem necessidade de... fica em casa rodeado de livros, revistas, jornais, filmes, se alimentando... sozinho...
E assim vale?!
Pra quê ter tanto por dentro e não ter com quem compartilhar?!


Não nos afastemos muito...

Tele Fome


Mas o tema sempre foi:

"Não alimento amor por telefone, isso é ilusão

Não adianta falar de amor ao telefone, isso é ilusão

Pra que tanto telefonema se o homem inventou o avião
Pra você chegar mais rápido ao meu coração

Não alimento amor por telefone, isso é ilusão
Não adianta falar de amor ao telefone, isso é ilusão

A fome de amar é real, não se traduz em fios
Meu ouvido não ama, apenas ouve os seus reclames

Vou desligar, não me ligue mais
A obrigação da tua voz é estar aqui
Vou desligar, não me ligue mais
A obrigação da tua voz é estar aqui...

No ouvido do meu coração, yeah, yeah
No ouvido do meu coração, heh"
(Jota Quest)

Sampa

Copa do Mundo.
Foi um gol mesmo.
Há muitos anos.
Muito comemorado também.
Mas onde foi que tudo ficou?
A memória é uma gaveta bem funda.
O que vale é que está tudo sempre lá.
Basta que algo remeta.
E porque não foi sempre assim?
Nada é sempre assim.
Tudo muda.
Talvez isso seja bom.
Não sei o que se conclui depois da morte.
Valeu?

domingo, 29 de novembro de 2009

Para as mulheres


"Erótica é a alma."
(Adélia Prado)

sábado, 28 de novembro de 2009

O cafajeste tem de ser um doce cafajeste (por Xico Sá)

O cafajeste ou é um doce cafajeste, um cafajeste lírico, poético, romântico, decente... Ou é muito risível. Não há outra saída para este animal. Ou tem a manha ou torna-se caricato na primeira piscadela.
Ou é um dublê do Peréio ou apenas um ensaio de Didi Mocó Sonrisal. Didi é gênio, ora, mas é macaco de outro galho. O cafajeste amador é piada. Quer traçar todas e a nenhuma se devota. Blefe. Não sabe, nem nunca procurou saber, que, no amor e no sexo, não existe mensalão nem milagre.
O cafa poético não é nada óbvio. Sabe, inclusive, que nem só de bonitonas e gostosas vive o homem. É capaz de devotar-se àquela mulher que ninguém dá nada por ela. E, de repente, descobre que se trata de um sexo sem precedentes, um vulcão nunca dantes despertado para as artes da alcova.
O cafa amador parece vestir-se sob encomenda de um personal stylist: falsa malandragem, cafuçu de araque. E sempre com um pé no metrossexualismo ou na tendência. No cafa romântico qualquer peça lhe cai bem, a ciência da pegada está no olho e no drinque caubói, por supuesto.
O doce cafajeste entra no saloon e não atira para todo lado. Não gasta balas à toa. Sempre escolhe um alvo. O caricato desfalca o colt até com as mulheres dos amigos, embora não tenha arma para matar sequer uma formiga a caminho da roça.
Falso e romântico
O falso cafa é só garganta. Transando ou não, diz que transou, fez e aconteceu, e ainda espalha a lenda urbana. Seu caminhãozinho não perde a viagem... Mas areia que é bom, necas.
O cafajeste romântico é discreto. Acredita sobretudo, e caso a caso, na arte da conquista, na devoção pura e simples. Nem que seja por uma noite apenas e nada mais. Diante dele, toda mulher se sente uma bonequinha de luxo. O canalha amador faz falsas promessas. O cafa romântico, evoluído, sabe que a fêmea moderna pode muito bem estar querendo... apenas sexo.
O cafa caricato se acha. O doce cafa sabe que hoje está por cima e amanhã pode muito bem estar por baixo - mas que seja, pelo menos, de uma bela cria da nossa costela, claro, no bafo.
No catecismo do cafa romântico, não há nojinhos nem proibições - ele se sujava todo chupando manga na infância e hoje sabe, por causa dessa pedagogia, como o sexo oral é uma arte.
O amador é asséptico e limpinho, corre sempre para o chuveiro depois da transa.
O cafa amoroso, amigo, se pudesse, voltava para o útero por dentro da mulher mais linda da cidade, como na crônica do amor louco do velho safado Bukowsky.
O amador se contenta, muitas vezes, com um sexozinho virtual no Messenger. Sem cheiros, sem odores... Ele ainda não sabe que para curar um amor platônico é preciso uma trepada homérica, como diria o poeta Eduardo Kac, gênio de Copacabana, da bioarte e seus arredores.




Modinhas de fêmea
Conselho do P.J.O'Rourke, no livro Etiqueta Moderna - Finas Maneiras para Gente Grossa, tradução do Aran, ed. Conrad:
"Quando você vai ao encontro de um homem, é perfeitamente aceitável que você deixe claro que trabalha mais duro, é mais bem sucedida e ganha muito mais do que ele. Mas você deve levar em consideração que ele precisa manter algum respeito próprio. Devido a isso, não importa o quanto você ganhe, permita que ele pague todas as contas."

Interior


Me sinto um peixe fora d’água.
Não encontro referência.
A (in)diferença me agride.
A falta de opção me espanta.
E fico presa nesses momentos.
O que vim fazer aqui?
Cadê a liberdade?
Onde se conhece o que é bom nesses quatro cantos?
E nem há avião pra me tirar daqui.
Ah, esses caminhos tortuosos...

Amor


Contigo me libertei,
conheci e senti muitas coisas que não consegui conhecer e sentir com outros.
Se em algum momento nessa vida eu vivi a experiência, foi contigo.
Acho que a felicidade da nossa união (me sinto mais tua do que nunca), para além daquele limite do inexplicável, está no fato de não nos julgarmos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O homem é resultado de suas mulheres


Abro a janela se escuto uma voz.
Abro uma porta se pressinto passos.
Eu me antecipo para depois me adiar.
O homem é resultado de suas mulheres.
Tive uma manhã, não uma noite,
uma manhã como amantes casados.
Com a luminosidade intensa,
cerrei os olhos para enxergar.
Tive um pouco mais do que uma vida
em uma manhã.
(Fabrício Carpinejar)

Recorda!

"Tu me tocas de um jeito... com um carinho...
és minha redenção!
e quando provoco em ti ventos que te fazem tormenta...
és ainda o meu porto seguro."

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Filhos!


Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
(Vinícius de Moraes)

Pedofilia - Dr. Maurício Salvadori

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ausência

"Ele era como a madrugada: perto de acordar, mas ainda cheio de sono. Era um menino feito de coragem e medo. Um homem entre a dúvida da liberdade e a certeza do ninho de paz que dois corpos promovem. Mas nesse momento ele tem os olhos líquidos... E a casa observa, em silêncio, o mar que havia revirado suas águas.
Acreditavam que a sua vontade de partir tinha vindo do desamor. Tudo em seu pequeno espaço já andava ocupado demais. A cadeira, a cama, os livros... Até mesmo o carinho distribuído. Por muitas vezes ele não acreditava em nada, embora a história toda estivesse lá, cravada no próprio corpo. Ainda assim, preferia pensar ser um cigano esquecido em porta de família alheia.
E quando se sentia cigano, prestes a partir, ele se fazia rarefeito e ficava perambulando por entre as pessoas, escondendo-se de si mesmo. E percorrendo a cidade, invadindo casas, o seu caminhar promovia sonhos. Entre os sons das bocas amadas ele ouvia um canto bonito, em língua diferente, que até mesmo o silêncio aquietava para escutar. Mas embora tentasse, não os compreendia... e com os corações ameaçados, a cidade dormia. É que em seus sonhos havia fugas, amores, aventuras, pequenos barcos, grandes mares e não apenas sons.
E foi então que descobriram o seu outro segredo: ele queria mesmo era ser roubado. Porque ser roubado é o mesmo que ser amado. Só roubamos aquilo que nos falta.
E ele queria apenas ser ausência..."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Como enviar cartinhas ao Papai Noel?!




Achei que deveria escrever aqui sobre o que senti hoje ao ir pegar, como todo ano, a cartinha de Natal que as crianças mandam pelos CORREIOS para me incumbir do papel de Papai Noel de algumas delas...
Todo ano chegava na agência, sentava, lia e escolhia algumas cartinhas que mais me tocavam... pela necessidade, pela fé, pelo capricho, enfim, dentre tantas era preciso selecionar as 3 ou 4 que eu poderia ajudar.
Daí escolhia os presentes com carinho; às que pediam e às que não sempre levava algo pra ceia de Natal (muitas vezes uma simples cesta básica), e ia entregar nos “cafundós” da cidade onde moro no interior do Estado (onde trabalho e moro há cinco anos, embora seja de Floripa).
Encontrava carinhas admiradas quando dizia que o Papai Noel tinha me pedido para entregar os presentes porque ele estava muito atarefado naquele ano... além da surpresa, alegria, emoção, que contagiava a todos e fazia bem... por estar junto ao próximo; por dividir o que temos e falta a tantos; por satisfazer pequenos desejos de crianças tão pequenas; por dispor não apenas do dinheiro e do trabalho, mas do meu “tempo”, ao dar atenção àquele que está do nosso lado e ouvir suas histórias de separação, morte, desemprego, abandono, privações... porque eu acredito ser esse o Espírito do Natal.
E nesse Natal, mais especificamente, queria levar junto a minha filha, de quase dois anos, para que aprenda desde cedo como pequenas coisas na vida fazem bem a tanta gente, como se fosse uma corrente...
E esse ano tive uma grande decepção.
Cheguei como sempre aos CORREIOS, pronta para sentar e ler as cartinhas... tomar contato com realidades tão duras e definir a quem e como poderia ajudar... quando a funcionária me estendeu uma caixa com vários bloquinhos de envelopes padronizados presos por um elástico e com cartinhas numeradas...
Eu disse:
- O que é isso?
- São cartinhas mandadas por colégios municipais, só peço que vocês não tirem da ordem...
Peguei o que achava ser um bloco mais heterogêneo e sentei pra ler... eram cartinhas pedindo MP4, leptop, celular... outras eram mimeografadas apenas pedindo um presente legal ou bonito com a assinatura da criança.
Devolvi a caixa, agradeci e disse que queria “aqueeeelas que as crianças vêm trazer aqui”...
E ouvi a seguinte resposta:
- Ah, agora é assim. As escolas municipais mandam essas cartinhas, a pessoa que quer comprar o presente compra e traz até aqui e nós os entregamos durante uma festividade.
- Mas por que vocês fizeram isso?
- Porque foi constatado através de uma pesquisa que as pessoas que colaboram preferem que seja assim...
- Tá, mas o que é feito com as cartinhas que as crianças vêm até aqui entregar para vocês levarem para o Papai Noel?
- A gente não pode mais receber.
Fiquei tão chocada que, em plena TPM, quase sentei nas escadas e chorei...
Agradeci e fui embora... Ela até insistiu para que eu levasse alguma daquelas cartinhas... e não acho errado que se queira organizar.... se há quem prefira assim, tudo bem... mas e as crianças que recebem um NÃO dos Correios quando pedem para enviar a cartinha ao Papai Noel?! Ficam como?! Crianças que têm fé em serem atendidas, crianças que têm sonhos, crianças que todos os anos faziam isso (sim, porque se pra mim era quase um ritual, imagina pra elas!)?!
Não há como “organizar” pra essas também?!
Ou que tal não organizar?! Permitir às pessoas fazerem suas boas ações ESPONTANEAMENTE, com a mesma espontaneidade que as crianças escreviam e postavam suas cartinhas?!
Por que tudo tem que ser seriado, padronizado?!
Não seria melhor ir atrás de alguém que pudesse atender as cartinhas que “sobravam”, para que ninguém ficasse de fora?! Ou de arranjar uma forma de voluntários se incumbirem de recolher, abrir e separar as cartinhas para disponibilizá-las ao público, se o problema é imobilizar funcionários dos CORREIOS com esse trabalho?! Que acredito ser de fato bastante árduo em grandes cidades...
Onde está o Espírito do Natal?!
Apesar de acreditar e saber que os CORREIOS são uma empresa sólida, correta, eficiente e que cumpre com seus deveres com seriedade... e que os funcionários se dedicam realmente a aproximar distâncias... nesse caso, especificamente, fiquei realmente triste... chateada... .indignada...
Alguém sabe o que poderíamos fazer?!