quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ausência

"Ele era como a madrugada: perto de acordar, mas ainda cheio de sono. Era um menino feito de coragem e medo. Um homem entre a dúvida da liberdade e a certeza do ninho de paz que dois corpos promovem. Mas nesse momento ele tem os olhos líquidos... E a casa observa, em silêncio, o mar que havia revirado suas águas.
Acreditavam que a sua vontade de partir tinha vindo do desamor. Tudo em seu pequeno espaço já andava ocupado demais. A cadeira, a cama, os livros... Até mesmo o carinho distribuído. Por muitas vezes ele não acreditava em nada, embora a história toda estivesse lá, cravada no próprio corpo. Ainda assim, preferia pensar ser um cigano esquecido em porta de família alheia.
E quando se sentia cigano, prestes a partir, ele se fazia rarefeito e ficava perambulando por entre as pessoas, escondendo-se de si mesmo. E percorrendo a cidade, invadindo casas, o seu caminhar promovia sonhos. Entre os sons das bocas amadas ele ouvia um canto bonito, em língua diferente, que até mesmo o silêncio aquietava para escutar. Mas embora tentasse, não os compreendia... e com os corações ameaçados, a cidade dormia. É que em seus sonhos havia fugas, amores, aventuras, pequenos barcos, grandes mares e não apenas sons.
E foi então que descobriram o seu outro segredo: ele queria mesmo era ser roubado. Porque ser roubado é o mesmo que ser amado. Só roubamos aquilo que nos falta.
E ele queria apenas ser ausência..."

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