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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Florença

A arte, a Criação e um guarda italiano

"Carro emprestado, frio de trincar os dentes e mapa, tudo perfeito para roteiro italiano, indo por indicação a Firenze. Meu anfitrião Darcy Andreetto garantia que eu não poderia perder, que é meu estilo de lugar, com museus, galerias, arte pelas praças, enfim, aquela coisa toda que ouvimos falar, mas o nome da cidade não me dizia nada.
Dirigidas as muitas e muitas milhas, Milão, montanhas e Firenze e já no quarto do hotel, olhando aqueles folhetos que nunca se olha, limpo os olhos para ter certeza Firenze = Florença. Eu estava na terra do meu xará, o David (ou Davi). Alegria total, agora sim eu concordava com tudo que me diziam sobre a cidade. Os ambientes das praças e fachadas dos prédios nos mostram tudo sobre a preocupação dos governantes do local em embelezamento, ostentação e preservação da cultura. E alguns amantes da arte. As homenagens a escritores em bustos e estátuas percorrem um panorama tão vasto que só podemos admirar mantendo em mente os tantos séculos de criação que estão ali, a idade da cidade e todos os que contribuíram.
Nossa mente de país jovem e no caso da arte quase que recém nascido, primeiramente nos dá uma idéia de “ajuntamento” e que vai sendo vencida pelo encadeamento das histórias contadas pelas obras na praça central. São mitos, guerras e personagens que foram deixando espaço para o surgimento do outro, e os mecenas à seu tempo, pedindo o encadeamento do que estava sendo contado, e aqui e ali com algum personagem da família, com certo resguardo, pois um mortal, por mais quase imortal que fosse, ficaria ridículo ao lado de Hércules. E isto está cuidado em toda parte, não se embatem as figuras artísticas com o dono do poder da hora.
A harmonia de Florença/Firenze é que a arte só brigou para conseguir recursos para manter o artista vivo, e concedeu alguns retratos de família, mas o conjunto é um grande encontro, como bar gigante onde se assentam os seres mitológicos e outros personagens que escreveram e descreveram o mundo até uma época. Em Orlando a Mulher Imortal, de Virgínia Woolf, existe uma conversa entre o senhor do castelo e o poeta, onde o segundo diz que poderia escrever obras e revisar as obras do senhor, desde que com uma pensão paga trimestralmente, que soa em inglês bastante estranho. Acordado isto, o senhor passa às mãos do poeta algumas de suas criações, que são consideradas um lixo. O mordomo pergunta ao senhor: “- O demitimos?” E aqui vai um fundamento que o conjunto de Firenze/Florença me passou, que é esta resposta do senhor: “- Não, faz algum tempo que não escuto alguém me dizer a verdade, mantenha a pensão, mas deixe-o longe.”
A visualização da arte nas praças, naquele conjunto, é um conjunto de verdades sobre a importância dos símbolos artísticos, a estética e a separação do espírito na hora de criar. E a criação nos deixa de presente a história de que havia sobrado um pedregulho num canto da praça, de outros trabalhos realizados, tanto embaraçoso quanto caro para a municipalidade, e Michelangelo resolveu pedir aos vereadores da época aquele pedregulho, e ganhou. Dado seu tamanho, moveu pouco para que pudesse trabalhar, e daquela pedra, em que ele disse que apenas retirou o que não era o personagem saiu o David. Ficou na praça até que invasões fizessem os governantes retirá-lo para local mais seguro, e depois inundações e outros percalços tornaram-no um andarilho. Hoje está firme em um museu e uma réplica na praça. Mas ao olhá-lo ele parece que vai sair andando, a posição dos pés e a flexão dos músculos é de algo em movimento.
E entro no museu, filmadora em punho, olho e não vejo restrições a maquinas e até algumas raras pessoas portanto as suas, e vou filmando. Na frente do gigante de 4 metros de altura uma segurança me alerta, - Desliga que não pode. Daí desligo. E logo em seguida vem um guarda e diz: - Vai, vai pode filmar, só não pode usar flash, vai firme. E liguei e segui filmando, mas,... já mudando de posição e com a máquina muito menos exposta. Passados alguns minutos a segurança avisa de novo – Desliga. Desliguei. E vem o guarda: - Não desliga nada, ela não sabe nada, que problema tem uma filmagem, as pessoas vem de longe e não podem levar uma imagem? Vai, vai. Fui.
E daí que tenho um filme com vários ângulos do meu xará, que me pôs a pensar que Deus poderia ser tão bom escultor como Michelangelo, mas entendo que trabalhar com matéria viva é mais complicado. Das cenas de Mercúrio, de Zeus e os retratos dos da época pode-se ver que a arte estava na estrutura do lugar, e as salas com mapas mostram que era também tempo de descobrir o mundo novo, e com rápida olhada se vê que já não era tão novo lá naqueles tempos e daí um guarda, que não apenas guarda, mas cria em seu espaço limitado uma oportunidade de registro da arte, que é evitado não pelo dano, mas pela diminuição na venda de souvenires na saída. Em Florença/Firenze a arte era paga antes, mantendo o artista vivo e agora faz viver a cidade."
(David Pokorski)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Buenos Aires

Antes de ir, buscando informações sobre a cidade, me deparei com essa entrevista concedida pela Maitena à Folha de São Paulo. Seguir algumas das boas dicas valeu a pena!!!
Ei-la:
Folha - O que você recomenda para fazer num dia com sol e num com chuva em Buenos Aires?
Maitena Burundarena - Num dia de chuva, há livrarias magníficas para ir. Uma no bairro Norte, a El Ateneo (Santa Fé com Robamba), fica num lugar onde funcionava um teatro. Ela conserva os palcos superluxuosos, o cenário, onde há um bar, e uma cúpula impressionante. Há todos os tipos de livro, e a seção infantil, com cadeiras e mesas pequenas, é um lugar muito bom para passar um par de horas com as crianças. A duas quadras dali fica a loja de discos Notorious (Callao, 966), onde é possível escutar uns discos interessantes num ambiente muito "cool". Há um bar que dá para um jardim e, em várias noites, há música ao vivo. Outra livraria que recomendo é a Boutique del Libro (Thames, 1.762), em Palermo, cheia de objetos, edições especiais e livros para os que os amam.
Num dia de sol, iria passear pela Recoleta, pelo cemitério e pelos parques, passando pela feira de artesanato. Almoçaria em Puerto Madero, em algum restaurante com vista para a ponte de Calatrava (fomos ao Il Gato). À tarde, iria a San Telmo, o bairro colonial, cheio de antiquários e de ruelas de pedras. Se fosse um domingo, comeria no Telmo Bar (Carlos Calvo com Bolivar), uma pequena pensão, baratíssima, onde são feitos uns malfatti de espinafre gloriosos. Outros restaurantes de que gosto são o Oviedo (Olazábal, 5.501), onde se come como os deuses, em um ambiente bastante informal, mas muito elegante, e o Sifones & Dragones (Ciudad de la Paz, 174), que só tem quatro mesas, com cozinha à vista, ao lado da mesa, show de cozinheiros e uma carta de vinhos muito moderna. É um lugar especial. O Green Bamboo (Costa Rica, 5.802) serve pratos orientais sofisticados e belíssimos e sucos de frutas exóticas, num ambiente escuro e misterioso.

Folha - Os roteiros para homem e mulher seriam diferentes?
Maitena - Não, não seriam passeios diferentes, a não ser para sair às compras, não? O passeio depende muito da característica de cada um. Algumas pessoas eu levaria a um museu, como o Malba (Figueroa Alcorta 3.415), que é ótimo (fomos também no Museu de Arte Decorativa em Palermo); outros, ao hipódromo de Buenos Aires, que é fantástico. Ou ao estádio da Boca, para ver uma partida emocionante. Outros, poderia levar ao Parque Japonês, para caminhar sobre pontes vermelhos e alimentar os peixes, ou à reserva ecológica e andar de bicicleta ao lado do rio. O zoológico de Buenos Aires também é muito lindo e está no meio da cidade.

Folha - Que suvenir você indicaria para levar de lembrança?
Maitena - Depende. Minha loja preferida é a Tramando (Rodriguez Peña com Posadas), de pesquisa têxtil e moda de um nível criativo altíssimo. Virando a rua, Perez Sanz trabalha com metais e pedras e faz umas peças incríveis. Desde jóias até cintos, tudo com um talento bárbaro. A Calma Chicha (Honduras, 4.925), em Palermo, tem objetos divertidos para casa, de todos os preços. Finalmente, uma boa garrafa de vinho de Mendoza, algum Catena Zapata, é sempre uma boa lembrança.

Folha - O que você faria com um amigo que não comesse parrilla?
Maitena - Levaria para comer na Dominga (Honduras, 5.618), que tem de tudo. E, se não quiser comer nada, pode tomar uma boa bebida e se divertir somente olhando as pessoas.