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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Soneto 17

"Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver."

domingo, 31 de outubro de 2010

Otelo

"DESDÊMONA - Vamos ao encontro dele para recebê-lo.
CÁSSIO - Ei-lo que chega.
(Entra Otelo e séquito.)
OTELO - Minha linda guerreira!
DESDÊMONA - Caro Otelo!
OTELO - Tanto contentamento quanto espanto me causa ver que antes de mim chegastes. Ó alegria de minha alma! Caso viesse sempre depois da tempestade semelhante bonança, poderiam soprar os ventos de acordar a morte. Que o meu barquinho escale montes de água tão altos quanto o Olimpo e, após, afunde tanto quanto distar do céu o inferno. A morte, agora, para mim seria uma felicidade, pois tão grande é a ventura que da alma se me apossa, que não pode, receio-o, reservar-me outra igual o futuro nebuloso.
DESDÊMONA - Permita o céu que nosso amor e nossa felicidade cresçam como os dias que ainda temos de vida.
OTELO - Amém, poderes inefáveis! Não posso falar muito sobre esse assunto. Sinto-me abafado: é excessiva alegria.
(Beijando Desdêmona.)
Recebe este, e este também. Que a única discórdia de nossos corações tenha este aspecto."

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quando penso em ti

"Quando em minha desgraça e sem fortuna sigo
dos homens desprezado, e minha sorte choro,
praguejo contra os céus insensíveis, deploro
meu destino, e em protesto inútil me maldigo.
E os ricos de esperança invejo, e, num momento,
anseio ter também prazeres, alegrias,
tudo o que à alma nos traz algum contentamento
e de amizades enche o decorrer dos dias…
Mas se assim desolado estou, e penso em ti,
tal como a cotovia ao vir da madrugada,
canto à espera do sol, à luz que ainda não vi,
e me sinto feliz, e sou rico talvez,
pois tendo o teu amor em minha alma encantada,
nem troco o meu destino e nem invejo os reis!"

domingo, 10 de outubro de 2010

Soneto 87

"Adeus, és preciosa demais para minha posse,
E muito provavelmente sabes o que vales;
A carta de tua superioridade dá-te liberdade;
Meus direitos em ti estão todos determinados.
Pois como te tenho senão por tua concessão,
E por tais riquezas onde está meu mérito?
Falta-me a causa dessa bela dádiva,
E por isso meu direito mais uma vez para trás se desvia.
Tu mesma te deste, teu próprio valor então ignorando,
Ou a mim, a quem o deste, ou por engano,
Assim tua grande dádiva, com a apropriação aumentando,
Torna a voltar-te, por melhor julgamento.
Assim eu te tive como um sonho nos lisonjeia.
No sono um rei, mas ao despertar nada disso."

Talvez por isso Harold Bloom tenha afirmado (e concordo plenamente!):
"Não se pode resolver a questão da influência sem levar em conta o mais influente de todos os autores nos últimos quatro séculos. Às vezes desconfio de que na verdade não nos ouvimos uns aos outros porque os amigos e amantes de Shakespeare jamais ouvem o que os outros estão dizendo, o que faz parte da irônica verdade de que Sheakespeare em grande parte nos inventou. A invenção do humano, como o conhecemos, é um modo de influência que ultrapassa de longe qualquer coisa literária." (em A Angústia da Influência, p. 14).

sábado, 21 de agosto de 2010

The Slave Sonets

Soneto LVII
"Sendo-te escravo, só posso aguardar
Que teu desejo me indique o momento.
Cada hora minha é um longo esperar,
Até que eu possa te servir a contento.
Em tuas demoras com paciência,
- És soberana dos anseios meus -
Encontro doçura na amarga ausência,
Mesmo que digas para sempre, adeus.
Não ouso te perguntar, enciumado,
Nem por onde andas, nem o que fazes.
Mas, triste escravo, aguardo-te calado,
Enquanto outros contentas e te aprazes.
Meu amor obedece a teu desejo
E cego busca o mal que nele vejo."