Achei que deveria escrever aqui sobre o que senti hoje ao ir pegar, como todo ano, a cartinha de Natal que as crianças mandam pelos CORREIOS para me incumbir do papel de Papai Noel de algumas delas...
Todo ano chegava na agência, sentava, lia e escolhia algumas cartinhas que mais me tocavam... pela necessidade, pela fé, pelo capricho, enfim, dentre tantas era preciso selecionar as 3 ou 4 que eu poderia ajudar.
Todo ano chegava na agência, sentava, lia e escolhia algumas cartinhas que mais me tocavam... pela necessidade, pela fé, pelo capricho, enfim, dentre tantas era preciso selecionar as 3 ou 4 que eu poderia ajudar.
Daí escolhia os presentes com carinho; às que pediam e às que não sempre levava algo pra ceia de Natal (muitas vezes uma simples cesta básica), e ia entregar nos “cafundós” da cidade onde moro no interior do Estado (onde trabalho e moro há cinco anos, embora seja de Floripa).
Encontrava carinhas admiradas quando dizia que o Papai Noel tinha me pedido para entregar os presentes porque ele estava muito atarefado naquele ano... além da surpresa, alegria, emoção, que contagiava a todos e fazia bem... por estar junto ao próximo; por dividir o que temos e falta a tantos; por satisfazer pequenos desejos de crianças tão pequenas; por dispor não apenas do dinheiro e do trabalho, mas do meu “tempo”, ao dar atenção àquele que está do nosso lado e ouvir suas histórias de separação, morte, desemprego, abandono, privações... porque eu acredito ser esse o Espírito do Natal.
E nesse Natal, mais especificamente, queria levar junto a minha filha, de quase dois anos, para que aprenda desde cedo como pequenas coisas na vida fazem bem a tanta gente, como se fosse uma corrente...
E esse ano tive uma grande decepção.
Cheguei como sempre aos CORREIOS, pronta para sentar e ler as cartinhas... tomar contato com realidades tão duras e definir a quem e como poderia ajudar... quando a funcionária me estendeu uma caixa com vários bloquinhos de envelopes padronizados presos por um elástico e com cartinhas numeradas...
Eu disse:
- O que é isso?
- São cartinhas mandadas por colégios municipais, só peço que vocês não tirem da ordem...
Peguei o que achava ser um bloco mais heterogêneo e sentei pra ler... eram cartinhas pedindo MP4, leptop, celular... outras eram mimeografadas apenas pedindo um presente legal ou bonito com a assinatura da criança.
Devolvi a caixa, agradeci e disse que queria “aqueeeelas que as crianças vêm trazer aqui”...
E ouvi a seguinte resposta:
- Ah, agora é assim. As escolas municipais mandam essas cartinhas, a pessoa que quer comprar o presente compra e traz até aqui e nós os entregamos durante uma festividade.
- Mas por que vocês fizeram isso?
- Porque foi constatado através de uma pesquisa que as pessoas que colaboram preferem que seja assim...
- Tá, mas o que é feito com as cartinhas que as crianças vêm até aqui entregar para vocês levarem para o Papai Noel?
- A gente não pode mais receber.
Fiquei tão chocada que, em plena TPM, quase sentei nas escadas e chorei...
Agradeci e fui embora... Ela até insistiu para que eu levasse alguma daquelas cartinhas... e não acho errado que se queira organizar.... se há quem prefira assim, tudo bem... mas e as crianças que recebem um NÃO dos Correios quando pedem para enviar a cartinha ao Papai Noel?! Ficam como?! Crianças que têm fé em serem atendidas, crianças que têm sonhos, crianças que todos os anos faziam isso (sim, porque se pra mim era quase um ritual, imagina pra elas!)?!
Não há como “organizar” pra essas também?!
Ou que tal não organizar?! Permitir às pessoas fazerem suas boas ações ESPONTANEAMENTE, com a mesma espontaneidade que as crianças escreviam e postavam suas cartinhas?!
Por que tudo tem que ser seriado, padronizado?!
Não seria melhor ir atrás de alguém que pudesse atender as cartinhas que “sobravam”, para que ninguém ficasse de fora?! Ou de arranjar uma forma de voluntários se incumbirem de recolher, abrir e separar as cartinhas para disponibilizá-las ao público, se o problema é imobilizar funcionários dos CORREIOS com esse trabalho?! Que acredito ser de fato bastante árduo em grandes cidades...
Onde está o Espírito do Natal?!
Apesar de acreditar e saber que os CORREIOS são uma empresa sólida, correta, eficiente e que cumpre com seus deveres com seriedade... e que os funcionários se dedicam realmente a aproximar distâncias... nesse caso, especificamente, fiquei realmente triste... chateada... .indignada...
Alguém sabe o que poderíamos fazer?!
Alguém sabe o que poderíamos fazer?!
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