sexta-feira, 30 de abril de 2010

Homens que traem são menos inteligentes, diz estudo

"Uma pesquisa divulgada pela revista especializada Social Psychology Quarterly mostrou que os homens que traem suas parceiras tendem a ter o QI mais baixo, enquanto ser fiel a mulheres e namoradas é sinal de que eles são mais inteligentes e "evoluídos".
Segundo o autor do estudo, o especialista em psicologia evolutiva da London School of Economics, Satoshi Kanazawa, "homens inteligentes estão mais propensos a valorizar a exclusividade sexual do que homens menos inteligentes". De acordo com a pesquisa, o ateísmo e o liberalismo político também são características de homens com o QI alto.
Para chegar a essas conclusões, Kanazawa cruzou dados de duas grandes pesquisas americanas que mediam atitudes sociais e QI de milhares de adolescentes e adultos. Após analisar os estudos National Longitudinal Study of Adolescent Health e General Social Surveys, o especialista percebeu que as pessoas que acreditam na importância da fidelidade sexual para uma relação demonstram QI mais alto.
Ampliando o resultado das análises, Kanazawa também concluiu que o comportamento "fiel" do homem mais inteligente é um sinal de evolução da espécie. Se ao longo da história evolucionária os homens sempre foram "relativamente polígamos", as pesquisas demonstrariam que esse quadro está mudando.
Para Kanazawa, assumir uma relação de exclusividade sexual teria se tornado uma "novidade evolucionária", e pessoas mais inteligentes estariam mais inclinadas a adotar novas práticas em termos evolucionários. Isso se deveria ao fato de pessoas mais inteligentes serem mais "abertas" a novas ideias e questionarem mais os dogmas.
Quanto às mulheres, Kanazawa esclarece que a exclusividade sexual não está diretamente relacionada ao maior QI entre elas, já que sempre foram relativamente monogâmicas, e isso não representaria uma evolução."

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Luíza


Lua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
 (Tom Jobim)

Palavras

Para que tu me escutes
minhas palavras
adelgaçam-se às vezes
como as pegadas de gaivotas nas praias.

Colar, cascavel ébrio
para tuas mãos suaves como as uvas.

Vejo-as longe de mim, minhas palavras.
Mais do que minhas são tuas.
Sobem por minha velha tristeza como as heras.

Sobem, sobem assim pelas paredes úmidas.
Mas tu és a culpada deste jogo sangrento.
Elas estão fugindo do meu abrigo escuro.
Ah, tudo invades tu, ah tudo invades.

Antes de ti povoaram a solidão que ocupas,
e estão mais do que tu afeitas ao meu tédio

Quero agora que digam o que quero dizer-te
para que escutes como quero que me escutes.

(Neruda em 20 Poemas de amor e uma canção desesperada)

Quanto cavalheirismo!

"Sou educado, deixo que ela passe rímel antes de magoá-la, senão o choro não tem graça."
(Carpinejar)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Sumiço

"Em dezembro, seu carro foi encontrado abandonado, com as portas abertas, próximo a um lago. Ninguém sabia do seu paradeiro. Todos os jornais noticiaram o fato, e incenssantes buscas foram realizadas, todas em vão. As teorias iam de assassinato a suícidio. O marido, que pretendia abandonar Agatha por uma amante, tornou-se o principal suspeito.
O mistério só foi resolvido 12 dias depois: um empregado de um hotel reconheceu numa hóspede o rosto mostrado nos jornais e chamou a polícia. Verificou-se que se tratava realmente da escritora, que havia se registrado no hotel sob o nome de Theresa Neele – o apelido da amante de seu marido.
O episódio nunca foi verdadeiramente esclarecido por Agatha. A versão oficial diz que ela sofreu um colapso nervoso, que ocasionou uma amnésia temporária, mas diversas versões pipocam até hoje."

De: http://acasatorta.wordpress.com/2008/05/09/o-sumico-misterioso/

terça-feira, 27 de abril de 2010

A pergunta que não quer calar III

Precisas de mim porque me amas,
ou me amas porque precisas de mim?!

domingo, 25 de abril de 2010

A falta do pai


Em complementação ao post anterior, reproduzo aqui uma entrevista publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos, sobre a importância do pai na formação das crianças. A matéria está disponível também no site do IHU, onde é possível ler outros textos sobre o tema.
'A falta do pai é sempre prejudicial'. Entrevista especial com Rubens de Aguiar Maciel
Por Redação IHU
“Há um grande desconhecimento em relação à importância da função paterna dentro da família. Nas relações entre mãe e pai, existe uma dinâmica que é alterada com a vinda de um filho. Por outro lado, o pai tem uma função muito importante na formação da personalidade e no aspecto emocional da criança”, afirma o psicanalista Rubens de Aguiar Maciel. Durante a entrevista que concedeu à IHU On-Line, por telefone, ele falou sobre as transformações que o papel do pai vem sofrendo nas últimas décadas.
Maciel analisou as pesquisas que são feitas no Brasil sobre a paternidade, sobre como as mulheres tratam o tema e também sobre a ausência do pai e a influência que o filho traz para o homem enquanto pai. “Hoje há alguns movimentos que procuram auxiliar os homens nesta tarefa de pai, ainda são poucos, mas existem grupos que se organizam no sentido de fazerem turmas de pais, de casais, onde vão discutir a questão da paternidade e do cuidado com os filhos. É algo que precisa ser incentivado e divulgado”, destaca.
Rubens de Aguiar Maciel é psicólogo e psicanalista. Atualmente, é professor na Universidade de São Paulo (USP) e colaborador do Hospital das Clínicas de São Paulo. É considerado um dos poucos especialistas do país na questão da paternidade.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Por que há tão poucas pesquisas sobre o tema da paternidade?
Rubens de Aguiar Maciel – O pai ficou em segundo plano nas investigações científicas e na sua relação com os filhos. Isso talvez porque a presença do pai dentro da família tivesse um papel um pouco mais distante até pouco tempo atrás. Há algumas décadas, o pai não era tão solicitado, como é hoje, para conviver no aspecto emocional com seus filhos e com a mulher. Ele cuidava muito mais do trabalho e de prover a família financeiramente. A parte da educação moral e dos cuidados com os filhos sempre ficou mais com a mãe. Por isso, a relação mãe-criança, mãe-bebê era mais intensa e mereceu mais estudos. Com as transformações econômicas, sociais e dos costumes, o pai hoje participa de uma maneira muito mais intensa e, acredito que, por esta razão, o interesse pela figura e função do pai na formação da personalidade da criança começou a crescer.

IHU On-Line – Quais são as transformações do papel do pai?
Rubens de Aguiar Maciel – Historicamente, o papel do pai sofreu transformações radicais de fato. Na pré-história, sabia-se que o filho tinha uma ligação com a mãe, já que provinha dela. Mas, em um passado remoto, não se tinha a ideia de que o pai fosse responsável pela fecundação. A mãe poderia engravidar pelos espíritos, antepassados ou por tocar em um animal ou em um mineral, de maneira que o pai não tinha a consciência do seu vínculo genético com o filho. Acredito que, por essa razão, a responsabilidade do pai era quase que nula. As coisas foram se transformando, e se descobriu, aos poucos, que a gestação era proveniente de uma união sexual e, desta forma, o pai tinha participação na concepção da criança. Assim, a responsabilidade e a ligação começaram a se estabelecer de maneira mais forte.
Mesmo assim, ainda em épocas longínquas, os grupos sociais eram muito extensos. A criança convivia com uma família extremamente numerosa, muitas vezes, convivia com uma variedade de empregados e funcionários da casa ou das propriedades. A criança sofria influências dessas inúmeras figuras. Com as transformações socioeconômicas, os grupos foram se tornando menores, até se reunirem no que hoje conhecemos como família nuclear, esta é constituída por pai, mãe e filhos, e, às vezes, alguns agregados. Mas o grupo familiar se tornou muito mais restrito, de maneira que a criança passa a ver o pai, a mãe e os irmãos como figuras de referência, e essas assumem uma importância de maior peso.

IHU On-Line – A paternidade é um tabu para as mulheres?
Rubens de Aguiar Maciel – Há um grande desconhecimento em relação à importância da função paterna dentro da família. Nas relações entre mãe e pai, existe uma dinâmica que é alterada com a vinda de um filho. Por outro lado, o pai tem uma função muito importante na formação da personalidade e no aspecto emocional da criança. Como os estudos não são muito extensos e aprofundados, se conhece pouco sobre isso, tanto a mulher quanto a sociedade de uma maneira geral. Na comunidade científica, isso também acontece, na medida em que os estudos não são muito extensos e abundantes. Iniciou-se, em vários outros países, algumas pesquisas que voltam suas atenções e esforços no sentido de olhar para a questão da paternidade, dentro da dinâmica familiar e na constituição emocional do filho.

IHU On-Line – A mãe tem influências no exercício da paternidade?
Rubens de Aguiar Maciel – Se for uma mãe amadurecida e segura emocionalmente, ela irá incluir esse pai, na relação com o filho, de uma maneira positiva. Entretanto, se essa mulher não é razoavelmente madura e se sua relação com o marido não está indo muito bem, pode haver uma tendência da mulher se unir ao filho e excluir o pai. É como se ela fizesse um pacto com o filho por várias razões, por ciúmes ou insegurança do marido, e, desta forma, prejudica o bom vínculo com a criança. Em outros casos, se a mulher é muito ansiosa, ela se volta de uma maneira extremamente exagerada para sua maternidade. Passa a ter um cuidado excessivo e, às vezes, desnecessário. A mãe acaba retirando a atenção de muitas outras coisas e principalmente do marido, que acaba se ressentindo disso. São mulheres que, por exemplo, não podem ter uma vida sexual, que procuram exercer cuidados exagerados com a sua saúde, que não tem uma vida social, se voltam exclusivamente para a gestação, de uma maneira que acaba excluindo o marido do convívio emocional com ela.

IHU On-Line – Quais as diferenças entre o papel e a função de pai?
Rubens de Aguiar Maciel – O papel está mais voltado para as expectativas sociais, culturais e morais de como o pai deve se comportar em relação à sua família e seu filho. Nesta medida, ele deve ser um provedor material, de educação, saúde etc. Inclusive, do ponto de vista legal, há uma lei, que está tramitando no congresso, que irá permitir aos filhos que processem seus pais por ausência afetiva, por falta de amparo afetivo. Porém, esses aspectos são relativos ao papel do pai, é o que se espera que o pai desempenhe. A função do pai diz mais respeito à formação emocional e da personalidade da criança.
O pai vai surgir como um exemplo em muitos aspectos para o filho. Vai surgir como aquele que deve estimular a criança a sair do vínculo simbiótico com a mãe. O pai irá induzir a criança para que ela vá se desligando da mãe, e vá se introduzindo na sociedade. A tendência natural da criança é estar grudada com a mãe o tempo todo, ser o centro das atenções e ter a mãe como objeto de seu controle. Se ela chora ou quer carinho, a mãe estará lá. O pai será aquela pessoa que dirá: “Ela é sua mãe, mas também é minha mulher. Ela é sua mãe, mas também é mãe dos seus irmãos. Você precisa substituir sua mãe, temporariamente, pelo pai ou por algum brinquedo”. Desta forma, o pai vai colocando a criança no convívio com a sociedade e vai fazendo com que ela aprenda a dividir esse amor simbiótico pela mãe com outras pessoas. A criança, primeiro, vai aprender a dividir essa atenção dentro do ambiente familiar, depois na escola, com a sua turma na adolescência, com seu grupo de trabalho na idade adulta, e vai destituindo seus amores primitivos por outros. A função do pai é formar uma criança que saberá dividir e lidar com seus desejos, assim ela conseguirá conviver em sociedade de forma mais harmônica.

IHU On-Line – E quanto aos limites, qual o papel da figura paterna?
Rubens de Aguiar Maciel – A criança ou bebê quer a mãe o tempo todo, exclusivamente, não quer dividi-la com ninguém. Um fato bem exemplar é quando se observa uma criança mamando no peito. A mãe está lá, conversando com ela e, se chega alguém, a criança olha para essa pessoa, mas continua com os dentes cravados no mamilo da mãe. Em relação a esse desejo de exclusividade e essa ligação contínua, isso precisa ser limitado. É preciso que se estabeleça uma separação. Neste sentido, o pai vem como limite.

IHU On-Line – Que lacunas se abrem a partir da ausência da figura paterna?
Rubens de Aguiar Maciel – A falta do pai é sempre prejudicial. Entretanto, a mãe pode exercer certas funções paternas. Neste sentido do limite, a mãe pode exercer em relação ao filho uma separação, dizendo para ele que também tem outras responsabilidades, mesmo na ausência do pai. Já a ausência do pai, como modelo, pode trazer uma série de fantasias e consequências, mais ou menos sérias, dependendo do convívio da criança com outras figuras masculinas. Se a criança tiver uma variedade de figuras masculinas para se identificar, o problema se dilui um pouco. Se não tiver, se o convívio for apenas com a mãe ou com figuras femininas, o problema aumenta, na medida em que não tem modelos para se projetar. A criança, no entanto, pode ir pegando esses modelos com seus amigos, com os pais dos amigos, mas não é a condição mais favorável.

IHU On-Line – Que tipo de transformações o filho traz para o pai enquanto homem?
Rubens de Aguiar Maciel – O fato de ser pai desperta, em muitos homens, um senso de responsabilidade que traz muitas ansiedades, muitas dúvidas. No sentido de que o homem se pergunta se é capaz de desempenhar aquele papel de forma razoável. A minha pesquisa foi feita com pais de primeira viagem, e, quando se trata do primeiro filho, os pais não sabem o que os espera. Eles não sabem se serão capazes de prover os filhos, de manter o emprego, de ser amorosos, darem bons exemplos, e, muitas vezes, não sabem se serão capazes de ter um comportamento diferente daquele que eles tiveram com seus próprios pais. Muitos deles não concordam com a educação que tiveram, esperam dar uma educação diferente, mas não sabem se tem capacidade e flexibilidade para se modificar.

IHU On-Line – Podemos dizer que hoje os pais têm uma relação mais afetiva e próxima com os filhos?

Rubens de Aguiar Maciel – Sim, isso vem mudando. Os pais hoje se mostram muito mais interessados e participativos. Essa quantidade enorme de separações faz com que os pais convivam com seus filhos e passem os finais de semana com eles. Há uma solicitação social, uma sugestão, por parte do comportamento, de que o pai deve se manter mais próximo. Isso tudo tem favorecido uma aproximação entre os pais e os filhos. Eu diria que é um começo e que ainda há muito para se avançar, mas a reação mais íntima entre pai e filho é um fato que vem se estabelecendo.

IHU On-Line – E que aspectos explicam a mudança de comportamento na paternidade, considerando essa relação mais próxima?
Rubens de Aguiar Maciel – Há transformações sociais e econômicas, com as famílias menores, que fazem as mulheres participarem do mercado de trabalho. Faz-se necessária uma divisão das tarefas dentro do lar com o marido, que passa a conviver com filhos de uma maneira mais intensa. Há também a divulgação dos conhecimentos científicos em relação ao comportamento. É indicado que esse pai não seja ausente, frio, distante e autoritário, e que deseje simplesmente determinar o futuro dos seus filhos, dizendo a eles o que devem seguir, a nível de carreira ou de relações. O cuidado com os desejos e as necessidades dos filhos, hoje em dia, é muito maior do que no passado. Hoje, há alguns movimentos que procuram auxiliar os homens nesta tarefa de pai, ainda são poucos, mas existem grupos que se organizam no sentido de fazerem turmas de pais, de casais, onde vão discutir a questão da paternidade e do cuidado com os filhos. É algo que precisa ser incentivado e divulgado.
(Envolverde/IHU Unisinos)
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

I agree... cause I love NYC too!



Empire State of Mind - Jay-Z e Alicia Keys

sábado, 24 de abril de 2010

O grupo

Em grupo vc se sente provocado(a) a parecer o(a) mais inteligente?!
Por quê?!
É necessidade instintiva?
Escamoteia insegurança?
Ou apenas incita o uso adequado da retórica?

Carta fundamental ao poetinha

"Vinícius, poetinha da pesada,
cogistaste o eco dos teus versos?
Poetinha, meu distinto camarada,
é mesmo fundamental a beleza?
Viste que monstruosa cagada?
Permita reparar essa tristeza.
Não por humanidade às feias, não.
Ainda que aqui e agora,
a coisa é que ande feia.
Não sei se vês daí,
a vitrine que se transformou a beleza.
A prisão dos corpos a que
se trancafiaram as belas.
Em que são elas mesmas,
suas próprias sentinelas.

Poetinha ai do céu,
são prisões coletivas,
com poucas chaves de saída.
Difícil de explicar pelo papel.

Mas não poetinha!
Não sou eu a julgar teus adágios.
Não há pretensão tamanha.
A coisa, agora nesse estágio,
anda muito, muito estranha.
E tanto que a beleza antes rezada,
ficou no limbo, na encruzilhada.
Mesmo tu hoje não mais cantarias,
o pouquinho dessas siliconadas.
Louvaria as mulheres de trinta,
tão mulheres que andam.
E para que eu mesmo não te minta,
No mundo feminino, as de trinta agora mandam.

Remeta-se ao céu no endereço de Vinícius de Moraes,
ouvi dizer que é além do monte olimpo."

PFF
 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Esconde-encontra


Ontem, brincando de esconde-esconde com a minha filha (que tem apenas 2 anos!), descobri uma coisa que me encantou...
Eu entrava no quarto, depois de contar até cinco, e dizia:
- Será que ela está aqui no banheiro?! (e ouvia risinhos vindos do quarto)...
- Será que ela está debaixo da cama?! Vou ver.... (e ela dizia: - nãããão) e quando eu me virava, saía de trás da cortina, como que pra me ajudar a encontrá-la, e me abraçava dando gritinhos de felicidade...
Fiquei feliz em ver que a minha filha não quer se esconder, ela quer ser encontrada.
E, embora me intriguem os ausentes, os misteriosos, os perdidos... eu não quero nada disso.
Eu quero me encontrar...
Eu quero ser encontrada.

Definição

"Penso muito na Luíza, que não sei se conhecerei ...
Sabes, acho que ela é bem mais que uma persona sexual - talvez a face mais visível e arrebatadora e a única que deixas, às vezes, aparecer.
É uma '(...) vontade de grimpar tudo de alto, e transpor tudo de proibido(...)', uma frouxidão moral, desejo de burlar o sistema, e mais: de viver sem regras, filhos, apegos, família, problemas ...
Uma coisa meio hedonista que, pessoalmente e gostando de ti como gosto, e admiro, não acho que seja negativo nem prejudicial ..."

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Lula, o filho do Brasil

Não pretendo discutir ideologia, política, história... Só quero dizer que o filme é muito bom... da primeira à última imagem. Os atores dão um banho de interpretação; a edição é impecável; o diretor dispensa comentários. O filme é um retrato fiel do Brasil: da pobreza disseminada, ao caótico sistema de saúde, às questões de habitação precária. É, acima de tudo, otimista, pois passa a mensagem de que no Brasil ainda é possível estudar, crescer, obter êxito na vida.
E quanto ao Lula, apenas analisando a tragetória da vida que teve, justifica ter chegado onde chegou.
Como diria a mãe do protagonista - numa primorosa interpretação de Glória Pires -, do alto da sabedoria popular que a encorajou e fez com que criasse tantos filhos com um mínimo de dignidade: "Teima, meu filho, teima sempre!". Recomendo. Muito bom!

Paixão

Há alguns dias uma questão me persegue: paixão se esgota?!
Sempre pensei que ela passasse... se transformasse... mas se esgotasse em si mesma?!
A paixão pode acabar porque não é cultivada...
Pode desaparecer pela perda de interesse de um dos pares...
Pode se transformar em amor, como ocorre no caso dos relacionamentos que duram...
Mas como fazer para gastá-la até ser possível se afastar de seu objeto?!
E mais: é possível viver uma paixão em toda a sua intensidade mantendo o curso normal da vida inabalado?! Paixões podem ser vividas em sua plenitude ainda que num ‘universo paralelo’?! É melhor amar ou estar constantemente apaixonado?! Até onde vai a paixão e entra o amor?!
Talvez realmente não haja resposta... “porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio; porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo; porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão; porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço...”

Mais...

"Siempre que te pregunto
Que, cuándo, cómo y dónde
Tú siempre me respondes
Quizás, quizás, quizás

Y así pasan los días
Y yo, desesperando
Y tú, tú contestando
Quizás, quizás, quizás

Estás perdiendo el tiempo
Pensando, pensando
Por lo que más tú quieras
¿Hasta cuándo? ¿Hasta cuándo?"
(Osvaldo Farrés)

Música

"Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer
Pois todos os caminhos me encaminham prá você
Assim como o oceano só é belo com o luar
Assim como a canção só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem só acontece se chover
Assim como o poeta só é grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor não é viver
Não há você sem mim, eu não existo sem você."
(Tom e Vinícius)

Soneto do amor maior

"Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo.

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo."
(Vinícius de Moraes)

Ausência

"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei a minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."
(Vinícius de Moraes)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Segunda

"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

(Vinicius de Moraes)

Domingo

"Há momentos na vida
em que sentimos tanto a falta do passado
que o que mais queremos é sair do sonho
é voltar no tempo.
Sonho com aquilo que quero.
Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida
e nela só tenho uma chance de fazer aquilo que quero.
Tenho felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância
das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros
e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque em um belo dia 'se morre'..."
(Clarice Lispector)

É isso mesmo, Thaís! Obrigada, amiga!

Sábado

"Não confie naqueles que não fumam;
eles não sabem que fumar é uma forma poética de suspirar"
(Mário Quintana)

Sexta

Noite de desapego,
ainda que houvesse o desejo simples do teu aconchego.
Mas a insana vontade do meu exagero
te colocou a prova na arena das minhas fantasias.
Entraste com curiosidade, que virou coragem,
e redesenhamos os contornos do que vivemos
sem que nada do que temos de bom tenha se perdido...

Quinta

"Deu pra ti,
Baixo astral
Vou pra Porto Alegre
Tchau

Deu pra ti
Baixo astral
Vou pra Porto Alegre
Tchau

Quando eu ando assim meio down
Vou pra Porto e... bah!, tri legal
Coisas de magia, sei lá
Paralelo 30

Alô tchurma do Bonfim
As guria tão tri afim
Garopaba ou Bar João
Beladona e chimarrão

Que saudade da Redenção
Do Fogaça e do Falcão
Cobertor de orelha pro frio
E a galera no Beira Rio."
(Cleiton e Kledir)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Esconderijo!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Virtudes


“Se a virtude pode ser ensinada, como creio, é mais pelo exemplo do que pelos livros. Então, para que um tratado das virtudes? Para isto, talvez: tentar compreender o que deveríamos fazer, ou ser, ou viver, e medir com isso, pelo menos intelectualmente, o caminho que daí nos separa. Tarefa modesta, tarefa insuficiente, mas necessária. Os filósofos são alunos (só os sábios são mestres), e alunos precisam de livros; é por isso que eles às vezes escrevem livros, quando os que têm à mão não os satisfazem ou sufocam. Ora, que livro é mais urgente, para cada um de nós, do que um tratado de moral? E o que é mais digno de interesse, na moral, do que as virtudes? Assim como Spinoza, não creio haver utilidade em denunciar os vícios, o mal, o pecado. Para que sempre acusar, sempre denunciar? É a moral dos tristes, e uma triste moral. Quanto ao bem, ele só existe na pluralidade irredutível das boas ações, que excedem todos os livros, e das boas disposições, também elas plurais, mas sem dúvida menos numerosas, que a tradição designa pelo nome de virtudes, isto é (este é o sentido em grego da palavra arete, que os latinos traduziram por virtus), de excelências.”
(André Comte-Sponville)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Não dá!




Pessoal, sou fã fanática do Almodóvar...
recuso-me a criticá-lo...
Sorry!

Fraude


Não é a primeira vez que me dizem que crio uma distância entre mim e o interlocutor... Como se me preservasse e não deixasse que ninguém se aproximasse do que sou realmente... daquilo que se passa dentro de mim...
Isso sempre me intrigou, porque é involuntário... sei bem onde guardo a minha reserva selvagem... mas também sou bastante tímida... será isso? Será frieza?
Ontem, conversando com uma amiga recente - muitíssimo perspicaz, inclusive, e blogueira das boas! - ela me veio com esse papo:

" - Vc parece reservada.. acredite.. sei que é estranho.. mas sei lá.. vc parece tão, tão... dá medo te postar comentário no teu blog.. imagina mandar emails!
- Engraçado... já me disseram isso... algumas vezes... como se eu mantivesse uma distância em que o interlocutor só consegue se aproximar qdo se sente seguro o suficiente.... tu és uma excelente observadora!
- Mas é bem isso mesmo... existe uma distância... involuntária, mas existe.
- Isso me intriga mto... pq sei bem que mantenho a minha reserva selvagem mto bem guardada, mas não a ponto de inibir o outro de dizer algo...
- Não se trata de frieza. Mas... talvez eu nem consiga descrever. É como se fosse distante pela qualidade. Tu tens qualidade visível entende? Juntamente com mistério...
- Hahahaha
- ... mas isso seduz os leitores!"

Isso, querida amiga, é só pra dizer que tudo isso é pura generosidade tua, porque sempre me senti uma fraude...
De qualquer forma, obrigada!
Tu tb és o máximo!
Beijos!

domingo, 11 de abril de 2010

... e até segunda!!!

Delírios de consumo

Li um comentário no blog do Carpinejar, da Ana, que me fez refletir... O que vocês acham:

"Trocar uma roupa dá mais prazer que comprar. Voltamos à loja decididas sobre o que não queremos. Não estamos de mãos vazias comparando os benefícios. Temos a certeza que algo não nos satisfez.
Um objeto adquirido tem o mesmo valor daquele outro desejado. Um objeto que permuta. Uma transposição experimentada com a possibilidade de devolver quantas vezes forem necessárias.
Trocar é abster-se da perda, pois toda compra é uma vontade que não se realizou.
Numa troca estamos mais conscientes. Confiscamos o sentimento iludindo a dúvida. Bjs."

Daí ontem saí, comprei uma bota e um vestido (em outros tempos teria sido bem pior!).... não resolveu meus problemas, é vero... mas me fez rever e conversar com as meninas que sempre me atendem (que são um misto de 'amigas' e 'psicólogas'... rs)... fez com que me sentisse mais bonita... enfim, me reconfortou por alguns breves instantes... rs
Não entendeu?! Assista ao filme Delírios de Consumo de Becky Bloom!

Despretensiosa blusa azul - por Carpinejar

"A mulher não decide tudo de uma vez, mas nunca deixa de decidir.
Segue a vida por capítulos. Acompanhar seu raciocínio é entender que o dia de hoje será completado amanhã. Atende outro calendário, talvez o dos maias ou dos incas. Não arrisque bebê-la de um gole. Muito menos lento demais.
Não é como o homem que toma atitudes definitivas a cada manhã para sofrer em seguida e remoer o orgulho em silêncio. Ele não pretende justificar suas escolhas. A mulher não cansa de explicar para desvendar novos motivos.
Eu sei como minha namorada funciona. Uma simples compra de uma blusa azul não é simples. Não comprou porque desejava, e sim porque estava nervosa, ansiosa, excitada com o excesso de trabalho. É, da alma feminina, encontrar um pretexto para a compra. Ainda não escutei de nenhuma amiga que levou por levar.
Além das sacolas, carrega a culpa de sua beleza. Precisa revestir o ato de uma nobreza maior, orná-los de um sentido existencial e messiânico. Declara-se vítima duma vontade indomável, dum contexto irreversível. Será uma reunião importante, uma apresentação difícil ou até uma dívida. Compreenda, a mulher é a única que se cura das dívidas gerando mais dívidas.
O consumismo não é objetivo como na visão viril, é terapêutico pelas gentilezas envolvidas, haverá uma atendente passando a roupa por cima do provador e elogiando suas medidas.
Toda mulher bem que tentará achar algo que demore muito para estragar. Como se a duração compensasse o investimento. Cobiça uma roupa que possa usar inúmeras estações. Mas é apenas uma justificativa para seguir com a compra, pois ela irá adquirir do mesmo jeito, sendo uma extravagância ou uma urgência básica. Herdou da mãe a fascinação pelos artigos duráveis e sofisticou o raciocínio a seu favor. Entra na história a questão da marca. Optará por um produto mais caro, com a alegação de que não envelhece. Sua teoria desembocará, em alguma hora, na relação custo-benefício, acrescida de evocação pessoal.
- Lembra daquela minha calça preta, que levanta a bunda e você adora?
Não adianta inovar. É só uma resposta para permanecer junto.
- Sim, eu lembro.
Ela se enche de autoridade:
- É dessa grife, tenho há cinco anos, dura até hoje.
Refere-se a um argumento implacável. A malandragem é empregar uma preocupação antiga e tradicional, uma missão familiar de economia repassada de geração a geração, para acessórios dispensáveis. Complicado definir o que é essencial, é do feitio da mulher julgar nada dispensável, por isso o homem ainda permanece vivo.
Eu falei que sei como Cínthya funciona. Ela, portanto, comprou uma belíssima blusa azul. Não pegou para completar um conjunto em casa. Bendita ilusão. Foi o primeiro degrau de várias escadas rolantes.
Amornou o assunto por uma semana quando acordou de repente afirmando que não existia modo de vesti-la sem um scarpin da mesma cor. Lamentava o desperdício, o tecido parado no armário. Antes ela julgava uma loucura comprar uma blusa azul, agora loucura era não comprar seu complemento. Da falta de necessidade, criava necessidades. Bingo, é o maior golpe de estado armado para cima de mim.
Eu absolutamente não sei como minha namorada desliga. Nem faço questão."

sábado, 10 de abril de 2010

Vc gosta de espiar, é?!

sexta-feira, 9 de abril de 2010


Há uma luz no fim do túnel?!?!?
Cuidado!!!!!
Pode ser o trem vindo em sua direção....
Não se desespere!
No fundo de todo poço há uma mola...
Acredite, ela te lançará de volta pra fora!

O poder do sexo pago - por Xico Sá

"Por que os homens, mesmo os que têm mulheres incríveis, mulheres maravilhosas, procuram as prostitutas ou garotas de programa? É uma pergunta tão antiga quanto a humanidade.
Segundo o meu pequeno repertório sobre o caso, uma das melhores respostas em torno do assunto foi a do monstro sagrado, o gênio, o homem, o mito, o ator Jack Nicholson.
Quiseram saber do velho lobo do cinema o motivo pelo qual pagava para que belezuras o servissem, sempre em domicílio. Por que, afinal, um cara charmoso e interessante como ele, capaz de ficar, transar, comer, amar, dormir com as melhores mulheres desse mundo, ainda apelava para tal expediente?
Nicholson não titubeou um segundo sequer. “Ora”, disse, “não pago somente para que essas respeitáveis mulheres se desloquem até a minha casa. Pago caro, sim, pela possibilidade de poder mandá-las embora na hora em que eu bem entender”. (tradução livre do pelotense e amigo Lanzeta, um ex-profissional do ramo, agora bem comportado na serenidade do lar doce lar).
Essa liberdade, na versão do ator, seria a grande vantagem do comércio do sexo sobre as ditas “mulheres normais”. Assim como essa, existem várias respostas possíveis. Todas com o chamado fundo de verdade, todas deliciosamente furadas, todas porcamente machistas.
Aí é que entra em cena Nickie Roberts, uma ex-stripper de Londres, autora do mais vasto ensaio sobre as mulheres de vida fácil: As Prostitutas na História (editora Rosa dos Tempos). O livro é um show de experiência própria e compilação de dados antropológicos, com finas citações de intelectuais de responsa como Eric Hobsbawm, por exemplo, sobre as chamadas “trabalhadoras do sexo” – como são politicamente tratadas.
O calhamaço, com 430 páginas, pode até não responder a nossa dúvida, mas certamente nos ajudará a entender melhor essas moças e o poder que exercem e sempre irão exercer sobre nós.
Sem esquecer, é claro, a fantasia de vocês, queridas leitoras, de pelo menos por uma noite – uma noitezinha e nada mais – vivenciarem este papel tão sedutor e fetichista.
Seja sob a luz do poste da rua Augusta, em São Paulo, nos bregas em extinção no interiorzão do Brasil ou nos inferninhos pulverizados de eucalipto de todas as saunas. Não importa.
Seja puta por vocação ou apenas as Brunas Surfistinhas da vida que desejam descolar um troco por uma temporada. Do New Sagitarius em BH ou o do Ladylaura, lá do Crato. E o Aritana Drinks, do Recife, infelizmente extinto, ali colado no ainda clássico bar Mustang?
O que faz o homem, repito, amigo, mesmo o mais bem-sucedido dos dons Juans, historicamente procurar as Séverines – para lembrar aqui a personagem da atriz Catherine Deneuve, na película A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967, do gênio Luis Buñuel)? Séverine, aliás, era uma burguesa, riquíssima, tinha de tudo, nada lhe faltava. Procurou um fino bordel por desejo mesmo.
Tudo bem, a liberação sexual alterou um pouco essa história, mas a prostituição, pelo que se vê, resiste firmemente. A hipocrisia em relação ao tema, no entanto, segue a mesma, óbvio, não acha?"

Comida, para quem precisa!

"Cuidado com o peso e a forma.
Quanto menos nós controlamos nossa vida, tanto mais esperamos controlar nosso peso
Na semana passada, celebrando o Pessach ou a Páscoa, muitos jantaram ou almoçaram em família. Aposto que, em algum momento, diante da fartura e das guloseimas que estavam na mesa, a conversa tratou dos planos e dos esforços de cada um para manter a linha, emagrecer ou aumentar de peso (músculos, não gordura, é claro), em suma, para conseguir dar ao corpo uma forma "satisfatória".
Para essa conversa acontecer, não foi preciso que houvesse magros ou obesos ao redor da mesa. A inquietação com o peso e a forma não é efeito do estado de nosso corpo. Ela se tornou onipresente nas últimas duas ou três décadas: sua difusão coincide com o aumento dos transtornos alimentares (supostas epidemias de bulimia e anorexia), mas é, de fato, uma espécie de transtorno alimentar em si, um transtorno alimentar da conversa e do pensamento.
É citada por toda parte (sem mais precisões) uma pesquisa segundo a qual 81% das crianças (norte-americanas) de 10 anos estariam com medo de ser gordas, e 50% das meninas dessa idade declarariam estar fazendo um regime. Agradeceria aos leitores que me ajudassem a encontrar o texto original dessa pesquisa, que, segundo algumas fontes, seria do começo dos anos 90. De qualquer forma, mesmo que a dita pesquisa seja uma lenda, sua popularidade confirma um fenômeno que todos verificamos a cada dia: hoje, a forma e o peso preocupam até as crianças.
Nesta altura, seriam esperadas acusações contra nossos hábitos alimentares, contra a vida sedentária e contra os ideais impossíveis promovidos pela cultura de massa e pela indústria do regime e da forma física. Em suma, estaríamos todos pensando no peso por culpa da preguiça, do McDonald's, da Barbie e do G.I. Joe, bonecos que parecem ter sido inventados para que, desde a infância, ninguém se contente com o corpo que tem.
É com essa expectativa que li o número de fevereiro de "Counseling Today" (revista da American Counseling Association), consagrado a transtornos alimentares e imagem do corpo. Expectativa frustrada, felizmente: num longo artigo sobre a obsessão com o peso, é entrevistada uma terapeuta, Anna Viviani, que oferece uma explicação específica por nosso interesse pelo peso e pela forma com ou sem transtornos alimentares propriamente ditos.
Resumindo, ela entende assim: quando alguém sente que tudo na sua vida está fora de controle, ele sente também que os alimentos, o peso, o exercício são coisas que, em princípio, ele poderia controlar.
Tanto faz, aliás, que alguém consiga seguir um regime à risca, emagrecer ou aumentar de peso e fazer ginástica regularmente. O que importa é que as consultas, as propostas, as leituras e as conversas intermináveis sobre dieta e exercício têm um valor em si: elas mantêm viva a promessa de um controle -que é difícil, mas que é, em tese, possível.
À diferença do que acontece, em geral, com nossa vida amorosa e profissional, acreditamos (com uma certa razão) que nosso peso e nossa forma dependem de nós.
Nesse campo, podemos não fazer o necessário, mas sempre se trata de um não fazer "ainda": um dia, faremos e, quando fizermos o necessário, controlaremos nosso peso e nossa forma.
É tentador propor uma equação: quanto menos estamos em controle de nossa vida (amorosa, profissional, social e mesmo moral), tanto mais nos preocupamos com peso e forma, que, bem ou mal, podem ser controlados.
Numa direção parecida, na mesma matéria, outra terapeuta, Erica Ritzu, resume assim a fala de um paciente com transtornos alimentares: "Se você não me escuta e não deixa nunca que minha opinião conte, posso ao menos escolher não comer nada".
De repente, a greve de fome dos presos políticos pode ser um modelo para entender o que acontece nos transtornos alimentares e em nossa preocupação com peso e forma.
Certo, na greve de fome, os presos põem a vida em risco para promover uma causa (a sua própria ou outra). Mas eles também exercem, heroicamente, o que lhes sobra de liberdade; eles não são escutados, estão encarcerados, não podem nada, mas há algo que eles controlam: sua própria ingestão de alimentos. É o que sugere Anna Viviani, ao interpretar nossa obsessão com regime e exercício: quem não controla nada, pode, como último recurso, controlar sua alimentação, seu peso e sua forma.
Bom, só resta admitir que não controlamos nada, como os presos."
(Contardo Calligaris)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Terapia!

“Você já sabe onde se oculta esse outro mundo, já sabe que esse outro mundo que busca é a sua própria alma.Só em seu próprio interior vive aquela outra realidade por que anseia. Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo, não posso abrir-lhe outro mundo de imagens além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível seu próprio mundo, e isso é tudo.”
(em O Lobo da Estepe).

Julie & Júlia

Ai, teria tanto pra falar sobre esse filme!
Amo cozinhar!
Porque cozinhar me alivia, me relaxa, me faz viajar!
Me faz ficar perto de mim, solitária e acompanhada.
Porque cozinhando me sinto meio bruxa... é alquimia pura!
Curto geralmente com um vinhozinho, uma boa música...
E essas duas mulheres, cada uma a seu modo, se fizeram e satisfizeram, pelo prazer proporcionado por essa alquimia, que de tão especial é até meio erótica!
Recomendo para quem sente o mesmo!
E para quem realmente curte o tema, imperdível o Simplesmente Marta, mas na versão em alemão!

Afrodisíaco


Inteligência é o maior afrodisíaco que um homem pode oferecer.
Nem de longe é a beleza de um homem que encanta a mulher. Para a sorte de vocês (ou azar, vai saber...), nosso barato é diferente, e pode ser definido, entre outras coisas, como "virilidade". Essa definição tem muito pouco a ver com coçadas supostamente discretas nos testículos, cuspidelas na sarjeta ou exaltação do sistema nervoso diante de 22 homens suados correndo no gramado, imbuídos do espírito de encaçapar a gorduchinha. Vai muito além da testosterona exacerbada.
Tem a ver com autoconfiança, sempre. E com perspicácia, qualidade muito rara num homem. Ou você pensou que seria fácil? Não ligamos pra barriga, careca ou pneuzinhos, até porque sabemos muito bem que nada disso atrapalha, tanto quanto o seu oposto pode ser absolutamente desprovido de encantos se não vier acompanhado de um perfil psicológico substancioso.Mas o que afinal de contas isso quer dizer, nunca te explicaram. Então lá vai.
Voltemos à virilidade.
Acho que poucas coisas nesta vida são mais eróticas e provocantes do que a inteligência. E quem a tem também possui senso de humor - porque somente os inteligentes não levam nada muito a sério e sabem se divertir mesmo com as intermináveis chatices cotidianas. Então temos inteligência e senso de humor, que somados à malícia (outro atributo dos neurologicamente privilegiados) arrebatam as mulheres e tornam um homem ainda maior aos nossos olhos. Porque não basta pregar a gente na parede. Isso todo ser munido de um bom falo é capaz. É preciso, para se diferenciar da varonil multidão, despertar nosso impulso primitivo racionalmente ativável.
Eternamente alunas.
Vocês olham uma mulher e pensam: "Meu Deus, que peitos, que nádegas, que cinturinha escultural, que boca mais lasciva...", e já começa o devaneio e o desejo de abater.
Nós, não. É impossível uma mulher (minimamente inteligente, claro) olhar para um homem esteticamente interessante e, sem nenhuma conversa, desejar ser invadida. Não. Eis aqui a diferença: nosso desejo de invasão não prescinde do intelecto (você já deve ter presenciado o olhar admirado e sensual das alunas de um grande professor). É preciso passar primeiro pela porta da razão para chegar à porta da alegria. E quanto melhor for o instrumento pensante do sujeito, maiores as chances de acolhida de um outro também interessante e mais mecânico agente.
Porque mulher gosta mesmo é de ser surpreendida, e isso só acontece quando se depara com alguém mais esperto do que ela. Todos sabem o jogo que estão jogando, esse interminável gato-atrás-do-rato que motiva nossa vidinha. E é preciso reconhecer as suas regras, o que requer maturidade. Homem que baba demais, no chance. Os que bajulam e não convencem, também. Os cafas, cruz-credo! A gente tem olho clínico pra eles e passa longe quando os vê. Os demasiadamente (ou precipitadamente) românticos têm grande chance de morrer na praia, porque acaba o desafio. Os posudos e pretensiosos não duram mais do que uma noite. Restam então os inteligentes.
Estes, sim, sabem do que somos feitas. E sabem que, por trás de toda empáfia, vaidade ou sedução, está um bichinho indefeso em busca de acolhimento, louco por um colo.A virilidade está nisso, na consciência masculina de que não somos assustadoras nem lascivas, mas apenas mulherzinhas assustadas e ávidas por um olhar que nos descubra. E nos devore, de preferência.
(Kika Salvi)

Não resisti e peguei da Michele: http://michele-dos-santos.blogspot.com/2010/04/inteligencia-e-afrodisiaco.html#comment-form

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Espanha


Hoje acordei saudosa da Espanha...
Algumas coisas a que tive acesso mais tarde, sempre me remetem...
Os filmes Matador e Fale com ela, do Almodóvar, e o livro O Sol Também se Levanta, de Ernest Hemingway, cuja trama tem como protagonista o jornalista norte-americano Jake Barner, que voltou da Guerra impotente. Seu melhor amigo é Bill Gordon, com quem desabafa e confidencia sua paixão frustrada por Brett, uma "prostituta" que não cobra pelos serviços, mas que mantém uma paixão secreta por Jake, só que não tem coragem de levar adiante esse amor por causa da impotência do jornalista. Brett é noiva de Mike Campbell, um ex-milionário que se conforma com a infidelidade da parceira. Por fim, o paradoxo de todos os personagens apresentados, Robert Cohn, único que não se enquadra no perfil "geração perdida" do grupo. Não bebe demais, não participou da guerra, tem como sonho ganhar a vida na América do Sul e é declaradamente apaixonado por Brett, que não corresponde. Esse é o grupo que viaja para Pamplona, na Espanha, para assistir a um festival de touradas. No percurso, vagam por bares, com conversas vazias e um copo de cerveja na mão, assim como tantos outros que adquiriram essa rotina depois da Guerra. Na viagem, juntam-se a Pedro Romero, um toureiro espanhol que se torna amante de Brett, fazendo a história ficar ainda mais envolvente.
Vale mto a pena... conhecer a Espanha, assistir aos filmes e ler o livro!

No meio do caminho

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma povoada de sonhos eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
(Olavo Bilac)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Perfume...

"Meu perfume acaba e abasteço o pote novamente.
Só eu sei que é água.
Mesmo dentro do relacionamento,
grande parte do amor permanece platônico."
(Carpinejar) 

Chanel

Algumas frases ditas pela protagonista foram dignas de nota:
"A única coisa interessante no amor é fazer amor. Pena que é preciso um homem pra isso."
"A mulher apaixonada está ferrada. É uma cadela submissa."
"É melhor ser a amante do que a esposa. A pior coisa no casamento é o casal."
Filme (ou uma grande mulher) que rendeu boas reflexões... E revolucionou toda uma época!
Recomendo!
Assisti à peça com a Marília Pêra no Rio há uns quatro anos... também foi espetacular!

Mães Órfãs

Tudo bem. O crime foi de uma barbárie inquietante e que nos faz pensar até que ponto um ser humano chega, sobre o que é capaz de fazer. Os réus, de uma frieza e de uma falta de dignidade ao não confessar e dizer a verdade - digo, qualquer coisa que, na visão deles, aconteceu naquele dia, pois verdade cada um tem a sua e depende de muitas variantes - impressionantes! 
A acusação foi impecável!
 A defesa foi brilhante.
A Justiça, célere (!!!).
O fato é que não houve o mesmo aprofundamento na questão da dor da mãe da Isabella...
de ter perdido a filha naquela idade e daquela forma brutal...
Isso me toca diretamente pois meus tios perderam a filha para uma doença degenerativa e nunca mais foram os mesmos... não se conformam, não compreendem, cada um de sua forma, perderam o brilho... sentem dor até hoje, embora se esforcem para continuar seguindo... ajudando com os netos... respirando, enfim.
Por isso acho que nós, mães, devemos refletir muito sobre o assunto... e lembrar da possível perda de um filho principalmente nos momentos de stress, inquietude, nervosismo, falta de paciência...
ou quando eles estão a nos testar, irritar, provocar, chatear;
ou aborrecendo, choramingando, desafiando,
fazendo manha!
Então decidi postar aqui uma excelente reportagem que li a respeito na revista Istoé.
E faz sentido, porque quem perde os pais fica órfão, quem perde um companheiro fica viúvo(a) e quem perde um filho fica como?!

“Eu sempre quis ter outro filho, mas não é um plano para daqui a nove meses”
Ana Carolina, mãe de Isabella

"Ser mãe é padecer no paraíso, quanta alegria e celebração à mulher que pode dizer isso – ela é mãe de filho vivo. Mãe de filho morto é mulher que desce ao inferno da dor, do desespero e da depressão. Sua vida, de céu não tem nada, há apenas um quedar-se insone, ansioso e impotente diante de um destino que não pode mudar. Se mães pudessem pressentir a morte inesperada de filhos, em crimes e acidentes, ou salvá-los de morte anunciada por enfermidade que vai se estendendo, simbolicamente tentariam aquilo que é fisiologicamente impossível: pelo mesmo e agora já inexistente cordão umbilical, através do qual os colocaram no mundo, os trariam de volta ao aconchego do útero. Sim, é nele, útero, que a constante dor emocional da morte, quase sempre psicossomatizada, lateja fisicamente. Psicólogos afirmam: “Muitas mulheres, ao perderem suas crianças, sentem pontadas no útero” – útero que já foi preenchido pelo feto, feto que virou filho, filho que virou sepultura. “A dor não passa jamais”, diz Luciana Mazorra, psicóloga clínica e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Emocional e fisicamente, é como se ela fosse mudando de lugar e machucando a mãe em espaços diversos.” Assim fala a teórica. Assim confirma a mãe enlutada Ana Cristina de Freitas Rocha, que perdeu em São Paulo a sua “querida Tatiana”, vítima de uma broncopneumonia aguda que fez seu abdômen doer numa quinta-feira e seus olhos cerrarem para sempre já no sábado seguinte: “O falecimento de filho é dor que dói na alma e no corpo.” Ana Cristina explica que “não há superação”, mas tão somente adequação de seu dia a dia ao sofrimento.

Ela trabalha em uma empresa de informática, gerenciando a área comercial, cuida da casa sozinha e atua voluntariamente na Associação Brasileira de Apoio ao Luto. É a essa função que dedica a maior parte de sua energia e tempo, coordenando um grupo de autoajuda e visitando mães enlutadas. Igualmente em outro ponto concordam especialistas em luto materno e mulheres que mirram em seu cotidiano na ausência do ente mais querido: “Às vezes, passase a vida inteira acreditando que o filho não morreu.” Há uma razão para isso, pendulando entre a filosofia e a biologia, essas duas áreas do conhecimento que são, também elas, mães – preciosas mães do entendimento da condição humana: existem na vida dois fenômenos irreversíveis, ou seja, a maternidade e a morte. A mulher é uma mulher e quando dá à luz passa a ser uma mulher-mãe. Se seu filho morre, ainda assim ela continua sendo mãe. Novamente aqui, reforça-se a tese com uma fala dolorida: “Não existe ex-mãe”, diz Maria José Amaral, que chora a falta de sua filhinha, Carolina, morta num acidente de carro na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, às vésperas de um Natal. Hoje ela mora em Brasília, tem um companheiro e escreve livros de contos baseados em experiências como a que ela amargou. Tentou ter outro filho, mas teve de abortá-lo porque o feto apresentava hidrocefalia e agora se resignou: não vai ser mãe novamente.


A DIFICULDADE DE OLHAR NO ESPELHO

Recentemente, duas mães que perderam seus filhos, crianças inocentes nas mãos de assassinos, tornaram-se involuntariamente símbolos da dor que devasta física e psiquicamente outras tantas mulheres, todas órfãs às avessas, digamos assim, de seus pequenos que partiram. Uma dessas mulheres é Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, trágica história que a mídia contou exaustivamente. A outra é Rosa Cristina Fernandes Vieites, mãe do garotinho João Hélio, que, preso ao cinto de segurança, mas com o corpinho fora do carro, foi arrastado na rua ao longo de sete quilômetros pelos assaltantes que fugiam com o automóvel de sua mãe. Rosa não dá mais entrevista porque um dos assassinos já se encontra em liberdade no Rio de Janeiro – e só três anos se passaram. Quanto a Ana Carolina, ela declarou em entrevistas que pensa em ter outro filho, projeto que não inclui os próximos nove meses. Teve de mudar de endereço em São Paulo (na garagem de sua ex-residência está instalada uma malharia que pertence a seus pais, segundo uma ex-vizinha), acorda cedo para trabalhar e brinca bastante com os sobrinhos. Ainda no campo da violência, é significativo na dor o sentimento da advogada carioca Zoraide Vidal. A sua filha, Ludmila, que era policial, estava grávida quando foi assaltada, torturada e morta.

Hoje, uma Zoraide essencialmente triste continua advogando e auxilia a polícia em trabalhos comunitários no Morro do Borel. Para todas essas mães a vida muda naquilo que é mais perceptível, ou seja, na rotina, na saúde, no ânimo e nos projetos. Mas muda também, e em doses alucinantes de padecimento, naquilo que é inconsútil, mas se torna marcado para sempre: a alma. “É como se a minha Ludmila estivesse agora eternamente na chuva, desamparada e desprotegida”, diz Zoraide. “E eu preciso protegê-la, acolhê-la. A sua última frase para mim, em vida, foi a seguinte: se eu morrer hoje, só volto para o mundo para ser filha da Zoraide de novo.” Ela prossegue: “Onde está a minha Ludmila para eu abraçar, cuidar, beijar? É como amputar um braço, não se recupera mais. É uma dor que é um buraco que nada preenche.” Falou-se em alma da mulher-mãe, falou-se no desejo impotente de amparar o que já é inerte e assim faz-se necessário voltar-se aqui à teoria do luto. O que é essa alma? Como se dá o processamento da irreversível perda? O projeto de maternidade, bem como a maternidade consumada, é para a mulher uma espécie de “prolongamento de seu ego”, assim ensinou humanidade o criador da psicanálise, Sigmund Freud, e dois de seus mais geniais seguidores – embora tenham rompido com o mestre no andar da carruagem do conhecimento humano – Melanie Klein e Jacques Lacan. Pode-se dizer, mesmo, que “é um ato narcisista da mulher e na criança ela vai projetar a si própria, o que não quer dizer que não a ame profundamente e para sempre”. Assim, quando o filho morre, três dores se sobrepõem. Em primeiro lugar, o “espelho-lago da mitologia de Narciso”, presente em todos nós, se parte e muitas mães órfãs mal conseguem olhar-se de fato num espelho de verdade. “Eu não conseguia no início olhar no espelho, o meu olhar sangrava a minha alma”, diz Ana Cristina. “Fiquei oca.” Em segundo lugar, a morte do filho interrompe toda a perspectiva de futuro que a mãe nele depositara, inclusive o futuro de ver seus genes se fortificarem e se perpetuarem – essa é parte emocional e novamente não tangível, mas contam também os projetos visíveis de vê-lo estudar, viajar, fazer dele uma pessoa e tê-lo como uma grande e constante companhia. Com ele vivo, o mundo é uma escada rolante subindo; se ele morre, nem se pode dizer que essa escada rolante pare. Na verdade, ela desce despencando.


A CULPA POR ESTAR VIVA

“Ocorre uma inacreditável descontinuidade. Eu perdi meu presente e, sem presente, com a morte da minha filha Tatiana naufragou meu futuro”, diz Ana Cristina. Finalmente, a morte de um filho interrompe o inexorável, mas natural caminhar do tempo: estamos culturalmente preparados para assistir, primeiro, à morte de nossos bisavós, avós e pais – ou seja, daqueles que primeiro chegaram ao mundo. O falecimento do descendente, portanto, interrompe essa ordem estabelecida de vida e morte e a mulher-mãe enlouquece ao triste estilo dos incrédulos que não se cansam de perguntar “por quê?, por quê? por quê?”. “Dá culpa, muito sentimento de culpa”, diz a paulista Eliza Cristina Saravalli, mãe de Tiago, morto num acidente. Em seu caso, também a culpa, como se culpa houvesse, se desdobra em dois planos. “Para esquecer de um namoro terminado, eu o incentivei a dar uma volta no jipe que o matou.” Essa é a culpa concreta, se é que assim pode-se chamá-la. Mas há outra, novamente a da alma, a da ordem natural interrompida de nascimento, crescimento, envelhecimento e morte. Há o desespero que somente a desesperada sabe qual é. “Certa noite, voltando muito tarde de um baile, tirei os sapatos para entrar em casa para que o Tiago não visse a hora que eu estava retornando. Ele acordou e perguntou: mãe, essa cena não está invertida? Não sou eu que tenho de chegar tarde e você cedo?”, lembra Eliza. Agora, no angustiante luto cercado de símbolos, ela atravessa noites a fio se indagando o contrário: “Tiago, essa cena não está invertida? Não sou eu que tenho de estar morta e você vivo?” A despedaçada Eliza prossegue com ela trabalhando como cuidadora de idosos.

Criticada por alguns e apoiada por outros, ela voltou a dançar sempre que pode, atividade que funciona como terapia e entretenimento. Na subversão do tempo dos vivos e dos mortos, quando gente pequena morre antes de gente grande, ou na “traição do tempo”, como às vezes preferem definir essas mulheres enlutadas, já não vale o lugar-comum que repetimos e julgamos toda dor aplacar: “Dê tempo ao tempo que a dor passa.” Não. Para as órfãs de suas proles o tempo estanca e não há lenitivo; e entre aqueles que se especializam em cuidar delas é impossível quantificar um período de luto. “Perder um filho é o maior stress que o ser humano pode passar. Não dá para dizer quanto dura esse luto, ele pode ser eterno”, diz a psicóloga Éster Affini, especializada no atendimento desses casos. Luto eternizado e tempo estancado são vividos por Maria José da Cruz Ferreira. Ela está com 73 anos e sua filha única, Regina, morreu quando tinha 15. Nesse pesaroso intervalo de 37 anos, Maria José conserva o quarto da filha tal qual ele era. Na gaveta da cômoda, cadernos e provas do colégio; no armário, vestidos. “A caminha dela, a cadeira, o violão, os bichinhos de brinquedo, tudo igual”, diz a mãe. A certa altura da vida, se é que dá para falar em vida, Maria José e seu marido, José Roberto Ferreira, chegaram a cogitar um pacto de morte – os dois se suicidariam no mesmo instante. Eles não se mataram porque “nos voltamos para a fé em Deus e em Nossa Senhora, além do trabalho voluntário com jovens”, diz ela.


UM PÁSSARO CHAMADO TICO

A estrada da religiosidade, na verdade, é trilhada por muitas dessas mães. A mãe de Isabella já declarou que reza muito e volta-se para Deus. A mãe de João Hélio disse certa vez que segue a Igreja Católica e começou a assistir a palestras sobre espiritualidade dadas por psicólogos. A carioca Manoela Toledo, mãe de Luan que morreu de caxumba com 6 anos, primeiro blasfemou à maneira das desesperadas, depois, assegura ela, teve “uma visão de Nossa Senhora, não com os olhos, mas com a mente”. E conta: “Antes de ver a Virgem, eu andava pela casa questionando Deus. A dor emocional era tanta que doía fisicamente. Eu me arrastava, curvada, ficava ajoelhada procurando cabelinhos de meu filho que poderiam estar no chão.” Cada órfã de filho empurra a vida, ou a reinventa em movimentos simples, com o vazio dentro de si. A paulista Luciana Leite, por exemplo, acaba de tatuar três corações no pulso e um pássaro no pé. Quando ela estava no hospital com seu pequeno Lucca, vitimado por doença degenerativa, “um pássaro visitava a gente todo dia e o Lucca chamava-o de Tico.” Luciana está trabalhando na área de comunicação de uma multinacional, voltou a namorar e cuida de seus dois outros filhos. A todas as mães órfãs entrevistadas ISTOÉ perguntou: – Que nome dar a essa dor? As mulheres-mães-órfãs choraram. As mulheres-mães-órfãs responderam: – Essa dor não tem nome."