quinta-feira, 29 de abril de 2010

Palavras

Para que tu me escutes
minhas palavras
adelgaçam-se às vezes
como as pegadas de gaivotas nas praias.

Colar, cascavel ébrio
para tuas mãos suaves como as uvas.

Vejo-as longe de mim, minhas palavras.
Mais do que minhas são tuas.
Sobem por minha velha tristeza como as heras.

Sobem, sobem assim pelas paredes úmidas.
Mas tu és a culpada deste jogo sangrento.
Elas estão fugindo do meu abrigo escuro.
Ah, tudo invades tu, ah tudo invades.

Antes de ti povoaram a solidão que ocupas,
e estão mais do que tu afeitas ao meu tédio

Quero agora que digam o que quero dizer-te
para que escutes como quero que me escutes.

(Neruda em 20 Poemas de amor e uma canção desesperada)

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