domingo, 31 de janeiro de 2010

O vento e a ilha

"Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
enquanto eu,
protegido sob teus grandes olhos,
por esta noite só
descansarei, meu amor."
(Pablo Neruda)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Saudade

"Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já... Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida... Saudade é sentir que existe o que não existe mais... Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que continuam... Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou. E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver. O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido." (Pablo Neruda)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Intervalo amoroso

"O que fazer entre um orgasmo e outro,
quando se abre um intervalo
sem teu corpo?
Onde estou, quando não estou
no teu gozo incluído?
Sou todo exílio?
Que imperfeita forma de ser é essa
quando de ti sou apartado?
Que neutra forma toco
quando não toco teus seios, coxas
e não recolho o sopro da vida de tua boca?
O que fazer entre um poema e outro
olhando a cama, a folha fria?"
(Affonso Romano de Sant'Anna)

Beyoncé em Floripa dia 04 de fevereiro! Let's go?!


Now that you're out of my life
I'm so much better
You thought that I'd be weak without you
But I'm stronger
You thought that I'd be broke without you
But I'm richer
You thought that I'd be sad without you
I laugh harder
You thought I wouldn't grow without you
Now I'm wiser
Though that I'd be helpless without you
But I'm smarter
You thought that I'd be stressed without you
But I'm chillin'
You thought I wouldn't sell without you
Sold 9 million

I'm a survivor (What?)
I'm not gon give up (What?)
I'm not gon stop (What?)
I'm gon work harder (What?)
I'm a survivor (What?)
I'm gonna make it (What?)
I will survive (What?)
Keep on survivin' (What?)

Thought I couldn't breathe without you
I'm inhaling
You thought I couldn't see without you
Perfect vision
You thought I couldn't last without you
But I'm lastin'
You thought that I would die without you
But I'm livin'
Thought that I would fail without you
But I'm on top
Thought it would be over by now
But it won't stop
Thought that I would self destruct
But I'm still here
Even in my years to come
I'm still gon be here

I'm a survivor (What?)
I'm not gon give up (What?)
I'm not gon stop (What?)
I'm gon work harder (What?)
I'm a survivor (What?)
I'm gonna make it (What?)
I will survive (What?)
Keep on survivin' (What?)

I'm wishin' you the best
Pray that you are blessed
Bring much success, no stress, and lots of happiness
(I'm better than that)
I'm not gon blast you on the radio
(I'm better than that)
I'm not gon lie on you and evalue
(I'm better than that)
I'm not gon hate on you in the magazines
(I'm better than that)
I'm not gon compromise my Christianity
(I'm better than that)
You know I'm not gon diss you on the internet
Cause my mama taught me better than that

I'm a survivor (What?)
I'm not gon give up (What?)
I'm not gon stop (What?)
I'm gon work harder (What?)
I'm a survivor (What?)
I'm gonna make it (What?)
I will survive (What?)
Keep on survivin' (What?)

After of all of the darkness and sadness
Soon comes happiness
If I surround myself with positive things
I'll gain prosperity

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Adaptação à escola


Ontem dei início à adaptação da Duda na escola...
O mundo é cruel.
A gente fica o tempo todo querendo que a criança aprenda boas maneiras e a forma mais adequada de se relacionar com o outro, ensinando a dizer, desde que começa a falar, "obrigada", "com licença", "desculpa", "por favor"...
Pois bem... no mundo real não é bem assim...
Ontem vi minha filha passar pela seguinte situação: queria ela entrar na casinha de bonecas e uma menina de pelo menos 5 anos estava sentada bem na escada, impedindo a passagem. Daí ela disse (muito adequadamente, se considerarmos que ela tem apenas 1 ano e 10 meses): "com licença!". A menina olhou pra ela num misto de incompreensão com indiferença e não saiu da frente. Ela me olhou, deu de ombros, e foi pro balanço.
Nesse momento, fora o sentimento de inadequação que me assola tempo integral e mil outras coisas que passavam pela minha cabeça (tipo: O que faz uma mãe ter que deixar um bebê aos prantos no colo da "tia" e sair correndo: o trabalho ou fuga? Cruel pra ela ou apenas pro bebê? Como é que podemos deixar nossos filhos em ambientes tão potencialmente perigosos, com ganchos de ferro para pendurar mochilas, areias provavelmente infestadas de bactérias, brinquedos sem a menor segurança e ir pra casa ou trabalho tranquilos? O que faz as "tias" aguentarem e darem conta daquela criançada toda e muitas ainda ter que cuidar das suas próprias crianças qdo chegam em casa? O que, afinal, nos faz ter filhos?), fiquei pensando: não adianta mesmo... acabamos colocando a criança na escola pra que ela possa se "socializar"... à barbárie a que estamos catatonicamente acostumados... falta de modos, de educação, de gentileza, de preocupação com o outro... e para que conclua que colegas teremos muitos, amigos poucos e com quem contar realmente menos ainda...
Ou seja, depois de tentar ensinar tudo a ela até agora, provavelmente ela aprenderá a duras penas que quando o "com licença" não funcionar, pra chegar onde quer vai ter que afastar  uma meia dúzia usando os métodos que talvez até não lhe pareçam os mais adequados, mas que hoje são os que funcionam...
Mundo selvagem esse...

Concordando com o Fernando: Resíduo


"De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficam poucas
roupas, poucos véus rotos,
pouco, pouco, muito pouco.
Mas tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
de teu áspero silêncio
um pouco ficou um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
nos pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
em pouco de mim algures?
no consoante?
no poço
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo fica um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
do vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver...de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas tudo, terrível, fica um pouco.
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço do cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
e sob tu mesmo e sob teus pés
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato."
(Carlos Drumond de Andrade)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Neruda


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo “A noite está estrelada
E tiritam, azuis, os astros à distância.”
O vento desta noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quis e por vezes ela também me quis.
Em noites como esta apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis e às vezes eu também a queria.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela.
E cai o verso na alma como o orvalho no trigo.
Que importa se não pôde o meu amor guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo.

À distância alguém canta. À distância.
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.
Para tê-la mais perto meu olhar a procura.
Meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite faz brancas as mesmas árvores.
Já não somos os mesmos que antes tínhamos sido.
Já não a quero, é certo, porém quanto a queria!
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos o olvido.
Porque em noites como esta a apertei nos meus braços
minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Mesmo que seja a última esta dor que me causa
e estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Hilda Hilst


"E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me."

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Arte Retórica e Arte Poética


"Os jovens, mercê do caráter, são propensos aos desejos e capazes de fazer o que desejam. Entre os desejos do corpo, a principal inclinação é para os desejos amorosos, e não conseguem dominá-los. São inconstantes e depressa se enfastiam do que desejaram; se desejam intensamente, depressa cessam de desejar. Suas vontades são violentas, mas sem duração, exatamente como os acessos de fome e de sede nos doentes. São coléricos, irritadiços e geralmente deixam-se arrastar por impulsos. Domina-os a fogosidade; porque são ambiciosos, não toleram ser desprezados, e indignam-se, quando se julgam vítimas de injustiça. Gostam das honras, mais ainda da vitória, pois a juventude é ávida de superioridade, e a vitória constitui uma espécie de superioridade. Mais que o dinheiro, tentam-nos a honra e a vitória; gostam muito pouco do dinheiro, porque nunca experimentaram a falta do mesmo, como se vê pelo apotegma de Pítaco em resposta a Anfiarau. A índole deles é antes boa do que má, por não terem ainda presenciado muitas ações más. São também crédulos, porque não foram vítimas de muitos logros. Estão cheios de sorridentes esperanças; assemelham-se aos que beberam muito vinho, sentem calor como estes, mas por efeito de seu natural e porque não suportaram ainda muitos contratempos. Vivem, a maior parte do tempo, de esperança, porque esta se refere ao porvir e a recordação ao passado; e para a juventude o porvir é longo, e o passado, curto. São mais corajosos que nas outras idades, por serem mais prontos em se encolerizarem e propensos a aguardar um êxito feliz de suas aventuras; a cólera faz que ignorem o temor, e a esperança incute-lhes confiança; com efeito, quando se está encolerizado, não se teme coisa alguma e o fato de esperar uma vantagem inspira confiança. São igualmente levados a se envergonharem, pois não suspeitam que haja algo de belo fora das prescrições da lei que foi a única educadora deles. São magnânimos, porque a vida ainda não os envelheceu nem tiveram a experiência das necessidades da existência. Cometem faltas? Estas são mais graves e mais violentas, pois em tudo põem a nota do excesso; amam em excesso, odeiam em excesso, e do mesmo modo se comportam em todas as outras ocasiões. Pensam que sabem tudo e defendem com valentia suas opiniões, o que é ainda uma das causas de seus excessos em todas as coisas. As injustiças que cometem são inspiradas pelo descomedimento, não pela maldade. São compassivos, porque supõem que todos os homens são virtuosos e melhores do que realmente são. Sua inocência serve-lhes de bitola para aferirem a inocência dos outros, imaginando sempre que estes recebem tratamento imerecido. Enfim, gostam de rir, e daí o serem levados a gracejar, porque o gracejo é uma espécie de insolência polida. Este é o caráter da juventude." (Aristóteles) 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ciúmes


"Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo em sê-lo, porque temo que meu ciúme magoe o outro e porque me deixo dominar por uma banalidade. Sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum."
(Fragmentos de um Discurso Amoroso - Roland Barthes)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Poemas para a amiga

"Contemplo agora
o leito que vazio
se contempla.
Contemplo agora
o leito que vazio
em mim se estende
e se me aproximo
existe qualquer coisa
trescalando aroma em mim.
Onde o teu corpo, amante-amiga,
onde o carinho
que compungido eu recebia
e aquela forma que tranquila
ainda ontem descobrias?
Agora eu te diria
o quanto te agradeço o corpo teu
se o me dás ou se o me tomas,
e o recolhendo em mim,
em mim me vais colhendo,
como eu que tomo em ti
o que de ti me vais doando.
Eu muito te agradeço este teu corpo
quando nos leitos o estendias e o me davas,
às vezes, temerosa,
e, ofegante, às vezes,
e te agradeço ainda aquele instante (o percebeste)
em que extasiado ao contemplá-lo
em mim me conturbei
(o percebeste) - me aguardaste
e nos olhos te guardei.
Eu muito te agradeço, amante-amiga,
este teu corpo que com fúria eu possuía,
corpo que eu mais amava
quanto mais o via,
pequeno e manso enigma
que eu decifrei como podia.
Agora eu te diria
o que não soubeste
e nunca o saberias:
o que naquele instante eu te ofertava
nunca a mim eu já doara
e nunca o doaria.
Nele eu fui pousar
quando cansado e dúbio,
dele eu fui tomar
quando ofegante e rubro,
dele e nele eu revivia
e foi por ele que eu senti
a solidão, e o amor
que em mim havia.
Teu corpo quando amava
me excedia,
e me excedendo
com o amor foi me envolvendo,
e nesse amor absorvente
de tal forma absorvendo,
que agora que o não tenho
não sei como permaneço nesta ausência
em que tuas formas se envolveram,
tanto o amor
e a forma do teu corpo
no meu corpo se inscreveram."
(Affonso Romano de Sant'Anna)

Ítaca


"Se partires um dia rumo a Ítaca,
Faz votos de que o caminho seja longo,
Repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Cíclopes
Nem o colérico Poseidon te intimidem;
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento, se sutil
Emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Cíclopes
Nem o bravio Poseidon hás de ver,
Se tu mesmo não os levares dentro da alma,
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais, com que prazer, com que alegria,
Tu hás de entrar pela primeira vez em um porto
Para correr as lojas dos fenícios
E belas mercancias adquirir:
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
E perfumes sensuais de toda espécie,
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim,
Rico de quanto ganhaste no caminho,
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
E agora sabes o que significam Ítacas."
(Konstantinos P. Kaváfis)
Tradução: José Paulo Paes

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pessoa


“E falta sempre
uma coisa, um copo,
uma brisa, uma frase,
E a vida dói
quanto mais se goza e
quanto mais se inventa.”

O amor - por Álvaro de Campos... ou, se preferirem, Fernando Pessoa


"O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..."

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O que fazer?!


Tudo o que havia entre nós se transformou num vazio que extrapolou a cama.
Nossas vidas se distanciaram na esperança de que outro conseguisse aplacar a ausência sentida.
Salto sem rede.
É preciso coragem para tentar se salvar quando não há mais o que dizer porque o outro não compreendeu os sinais.
Mas o que fazer agora de nossos corpos estirados no chão?!

De tudo


De tudo, no mínimo ficou esse indiscutivelmente delicioso fruto do nosso amor...
De gargalhada gostosa...
De farta energia...
De perspicácia singular....
Nem sei se merecíamos tanto.
Quem teve a bondade de nos enviar essa flor?!

Dois frutos têm ainda quatro patas...
e o que abriga tudo isso tem um jardim com flores, planos e amores,
envolvendo nosso mundo em cor de rosa...

Há afinidade



No gosto pelo que há de melhor.
Pelo respeito ao silêncio.
No prazer sentido desde que os pés tocam a areia da praia.
Pela sintonia nas impressões e sensações.
No abraço apertado e no beijo roubado.
Pelo olhar do outro.
Na satisfação em banheiras com champanhe.
Pela sintonia em viagens e passeios.
Nos desejos tantas vezes satisfeitos, respeitados e compreendidos.
Pelas alegrias compartilhadas e angústias divididas.
Na energia dos shows, carnavais e bailes.
Pela gentileza de pequenos gestos e nas pequenas preocupações.
No esforço empreendido em melhorar, agradar, se deixar levar...

O que amo


Fico pensando em ti e no que pensas que não disse, mas disse.
Que amo....
Cada centímetro do papel de parede colocado pra esperar nossa flor.
A tentativa de peixe, ainda que mal cozido.
A parede lindamente pintada de vermelho encarnado.
O pufe estofado com capricho profissional.
Cada flor plantada e regada com lágrimas e afeto.
A persistência com o varal.
As preocupações incompreendidas.
A determinação de alguns momentos.
A compreensão com as oscilações hormonais e de humor.
A paciência com as imperfeições, as dúvidas, os óculos e chaves constantemente perdidos.
O afeto e o carinho... enfim...
Provocações constantes para me tirar do estado ensimesmado de quem vive num mundo secreto.
Talvez viva mesmo...
Eu, minhas neuroses, minhas inseguranças, minha inconstância, minha constante ansiedade... o aparente controle... a força que fraqueja...
Talvez se compartilhado não suportarias... Tentei algumas vezes... Vi como pode ser pesado...
Mesmo pra ti, tão acostumado a mim.
Mas tudo faz parte da minha prisão...
Não queiras ser dela o eterno carcereiro...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A ternura - por Rubem Alves


Sentir ternura é não sentir as dores do amor nem a ardência sexual da paixão. Ela flerta entre um e outro, mas possui uma pureza singular
Soeren Kierkegaard definiu a pureza de coração como “desejar uma só coisa”. Puro é aquilo em que não há misturas; é uma coisa só, um único desejo. Assim é a paixão: pura. Porque ela se alimenta de uma coisa só: a imagem da pessoa amada.
Não se trata de uma imagem mais bonita que as outras. É uma única imagem que apaga todas as outras. O apaixonado só pensa na pessoa amada. Em todos os momentos, sempre.. Os assuntos que fazem as conversas do cotidiano não o interessam.
Camões, no episódio de Inês de Castro, escreveu que ela caminhava “dizendo aos campos e às ervinhas o nome que no peito escrito tinhas...”. Se não havia ouvidos humanos a quem pudesse dizer o nome que tinha gravado no peito, que as árvores, a relva e as pedras fossem depositários do seu segredo.
[...]
O amor começa quando colocamos uma metáfora poética no rosto da mulher amada. A paixão é uma experiência estética. Está ligada à contemplação da beleza. A mulher pela qual se está apaixonado é bela. É o olhar apaixonado que a torna bela. Porque não vemos o que vemos; vemos o que somos. Uma mulher é bela quando nos vemos belos ao olhar nos seus olhos. Quem, ao olhar para uma mulher, pensa em sexo não é um apaixonado.
O apaixonado sorri ao contemplar sua amada dormindo, sem tocá-la. É um momento de ternura. Há um desejo de acariciá-la, mas a mão se contém. Nenhum movimento seu deverá interromper a beleza da cena. Nessa cena os impulsos sexuais estão proibidos.
O sexo dos adolescentes e jovens se parece com um furúnculo inchado; túrgido, vermelho, dolorido que busca livrar-se do incômodo. Ele nem precisa de um objeto que o excite. Ele se excita por si mesmo. O que se busca não é a experiência amorosa; é rasgar o furúnculo para que o pus saia trazendo alívio. E quando o orgasmo acontece numa mistura de dor e prazer, o furúnculo se esvazia e o corpo fica em paz. Pode até ser que nesse momento o parceiro se esqueça da mulher ao seu lado, vire para o outro lado e durma.
Era o sexo que Tomas, personagem de A insustentável leveza do ser (Milan Kundera), fazia com suas namoradas. Tomas não sentia ternura por suas amantes. Ele as usava. Não as amava. Mas uma delas protestava: “Não procuro o prazer, procuro a alegria...” Mas onde mora a alegria? Mora no rosto da mulher amada, nos seus olhos que dizem: “Como é bom que você existe...”