terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Poemas para a amiga

"Contemplo agora
o leito que vazio
se contempla.
Contemplo agora
o leito que vazio
em mim se estende
e se me aproximo
existe qualquer coisa
trescalando aroma em mim.
Onde o teu corpo, amante-amiga,
onde o carinho
que compungido eu recebia
e aquela forma que tranquila
ainda ontem descobrias?
Agora eu te diria
o quanto te agradeço o corpo teu
se o me dás ou se o me tomas,
e o recolhendo em mim,
em mim me vais colhendo,
como eu que tomo em ti
o que de ti me vais doando.
Eu muito te agradeço este teu corpo
quando nos leitos o estendias e o me davas,
às vezes, temerosa,
e, ofegante, às vezes,
e te agradeço ainda aquele instante (o percebeste)
em que extasiado ao contemplá-lo
em mim me conturbei
(o percebeste) - me aguardaste
e nos olhos te guardei.
Eu muito te agradeço, amante-amiga,
este teu corpo que com fúria eu possuía,
corpo que eu mais amava
quanto mais o via,
pequeno e manso enigma
que eu decifrei como podia.
Agora eu te diria
o que não soubeste
e nunca o saberias:
o que naquele instante eu te ofertava
nunca a mim eu já doara
e nunca o doaria.
Nele eu fui pousar
quando cansado e dúbio,
dele eu fui tomar
quando ofegante e rubro,
dele e nele eu revivia
e foi por ele que eu senti
a solidão, e o amor
que em mim havia.
Teu corpo quando amava
me excedia,
e me excedendo
com o amor foi me envolvendo,
e nesse amor absorvente
de tal forma absorvendo,
que agora que o não tenho
não sei como permaneço nesta ausência
em que tuas formas se envolveram,
tanto o amor
e a forma do teu corpo
no meu corpo se inscreveram."
(Affonso Romano de Sant'Anna)

Um comentário:

  1. Injusto sentimento do vazio!

    Que na fuga fique a sensação da busca da felicidade.
    Que na vida escondida fique a sensação dos prazeres que podem vir.
    Que na suplica não entendida fique a esperança do retorno.
    Que no leito só, fique a sensação de um retorno delicioso.
    Que na individualidade desejada prevaleça a vontade de ser desnudada.
    Que na mão amiga segure a mão que pode ajudar.
    Que no afeto velado fique a vontade de gritar eu te amo.
    Que nas palavras ditas pela crueldade fiquem só as letras.
    Que na vontade de ser um, não fique o vazio da inexistência.
    Que no pedido do "daqui para frente" o passado seja só escola dos exemplos do que não devemos ainda alimentar.
    Que na ausência fique a vontade de ter pra sempre.
    Que no afago do carinho, fique a vontade de fazer sempre mais.
    Que no beijo desejado venha a expontaneidade do ato pelo ato.
    Que na irritação haja o entendimento do fato.
    Que no entendimento do fato não anteceda o julgamento.
    Que a verdade seja a informada e não a achada.
    Que no diálogo necessario busque-se a integridade do um.
    Que nas diminutas preocupações, fique a grandeza da consideração e comprometimento.
    Que na presença da dúvida fique a chamada para a vida juntos.
    Que na preocupação dos valores não fique o material.
    Que na felicidade ignorante fique a aceitação do ser por ser.
    Que na abertura das vontades prevaleça a integridade do um.
    Que na educação do fruto amado fique o orgulho do espelho refletido.
    Que no dinheiro fique o compromisso da vida simples e farta.
    Que nos sonhos desejados fique a abertura do entendimento da ajuda.
    Que na impessoalidade demosntrada a superação do amor explicito.
    Que no sacrificio do realinhamento fique o AMOR!

    Na solicitação dos afazeres para não esquecer, fique o comprometimento do sucesso para o futuro da volta.

    Os ques de uma lista para a lembrança da estrada longa. Na busca do retorno eterno e concreto. Para as certezas destruidas que vagam sem rumo, precisando ser juntadas na verdade crua.

    Na preferencia da licença poética a linha da construção para o futuro da integridade do um.

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