sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Arte Retórica e Arte Poética


"Os jovens, mercê do caráter, são propensos aos desejos e capazes de fazer o que desejam. Entre os desejos do corpo, a principal inclinação é para os desejos amorosos, e não conseguem dominá-los. São inconstantes e depressa se enfastiam do que desejaram; se desejam intensamente, depressa cessam de desejar. Suas vontades são violentas, mas sem duração, exatamente como os acessos de fome e de sede nos doentes. São coléricos, irritadiços e geralmente deixam-se arrastar por impulsos. Domina-os a fogosidade; porque são ambiciosos, não toleram ser desprezados, e indignam-se, quando se julgam vítimas de injustiça. Gostam das honras, mais ainda da vitória, pois a juventude é ávida de superioridade, e a vitória constitui uma espécie de superioridade. Mais que o dinheiro, tentam-nos a honra e a vitória; gostam muito pouco do dinheiro, porque nunca experimentaram a falta do mesmo, como se vê pelo apotegma de Pítaco em resposta a Anfiarau. A índole deles é antes boa do que má, por não terem ainda presenciado muitas ações más. São também crédulos, porque não foram vítimas de muitos logros. Estão cheios de sorridentes esperanças; assemelham-se aos que beberam muito vinho, sentem calor como estes, mas por efeito de seu natural e porque não suportaram ainda muitos contratempos. Vivem, a maior parte do tempo, de esperança, porque esta se refere ao porvir e a recordação ao passado; e para a juventude o porvir é longo, e o passado, curto. São mais corajosos que nas outras idades, por serem mais prontos em se encolerizarem e propensos a aguardar um êxito feliz de suas aventuras; a cólera faz que ignorem o temor, e a esperança incute-lhes confiança; com efeito, quando se está encolerizado, não se teme coisa alguma e o fato de esperar uma vantagem inspira confiança. São igualmente levados a se envergonharem, pois não suspeitam que haja algo de belo fora das prescrições da lei que foi a única educadora deles. São magnânimos, porque a vida ainda não os envelheceu nem tiveram a experiência das necessidades da existência. Cometem faltas? Estas são mais graves e mais violentas, pois em tudo põem a nota do excesso; amam em excesso, odeiam em excesso, e do mesmo modo se comportam em todas as outras ocasiões. Pensam que sabem tudo e defendem com valentia suas opiniões, o que é ainda uma das causas de seus excessos em todas as coisas. As injustiças que cometem são inspiradas pelo descomedimento, não pela maldade. São compassivos, porque supõem que todos os homens são virtuosos e melhores do que realmente são. Sua inocência serve-lhes de bitola para aferirem a inocência dos outros, imaginando sempre que estes recebem tratamento imerecido. Enfim, gostam de rir, e daí o serem levados a gracejar, porque o gracejo é uma espécie de insolência polida. Este é o caráter da juventude." (Aristóteles) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mostre a sua!