"Can we pretend that airplanes in the night sky are
like shooting stars
I could really use a wish right now,
a wish right now!"
e foge a
todos os padrões de beleza que uma emissora de televisão comercial no Brasil
exigiria, por exemplo, para uma mulher de sua idade que comandasse um programa
de televisão; tampouco é uma celebridade cuja fama repentina tenha motivado a
BBC a investir em um programa de televisão qualquer que aproveitasse sua imagem
carismática. Wendy Beckett foi convidada pelo canal de televisão britânico por
conta de seu vasto conhecimento de história da arte, e sua qualidade como
apresentadora é que a fez famosa mundo afora. Mas o mais peculiar de tudo isso
é, talvez, o traço mais encantador desta mulher incomum: ela é uma freira
sul-africana, residente do Reino Unido desde a década de 1970 e apresenta-se em
suas aparições televisivas vestindo o tradicional hábito de irmã de caridade
carmelita – o que significa dizer, em outras palavras, que ela é o que chamamos
de uma freira contemplativa, ou seja, vive enclausurada em seu mosteiro,
obtendo permissão para de lá sair apenas por ocasião de seus compromissos
seculares, que são cada vez mais raros e que se resumiam, praticamente, à
filmagem da série de documentários para a emissora de televisão britânica.
Isso faz com que suas observações nunca sejam enfadonhas ou
obscuras, conseguindo o mágico efeito de aprofundar as conexões entre o
expectador e a obra de arte analisada de uma forma que, de tão simples, ganha
ares de genialidade televisiva. No programa exibido em 02 de abril de 2006, pela
TVE gaúcha, irmã Wendy mostrou os motivos pelos quais o barroco floresceu em
Roma, a razão de ser do estilo de seus principais pintores e ressaltou a
importância de nomes como Rubens e El Greco, que de algum modo surgiram fora do
circuito romano das artes da época mas se alinharam com o arcabouço imaginativo
daqueles artistas. E tudo isso de uma forma clara e precisa, lançando até mesmo
luzes sobre temas periféricos para alguns grandes historiadores da arte – como,
por exemplo, as diferenças estéticas da obra de um dos raríssimos exemplos de
mulheres pintoras do barroco, Artemisia Gentileschi (1593 – 1652), para as obras
de outros seus contemporâneos do sexo masculino (veja foto acima). E, acreditem,
não parece haver temas que sejam tabu para a irmã Wendy Beckett.