quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amar

"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."

2 comentários:

  1. Amiga Lu, bela homenagem ao nosso grande Drummond.
    Eu gosto muito deste poema!
    Um abração. Tenhas um lindo dia.

    ResponderExcluir
  2. Passei pra te desejar um maravilhoso mês de Novembro e para agradecer todas as vezes que você carinhosamente esteve visitando meu blog.
    Espero que volte em breve...

    Beijos
    Ani

    http://cristalssp.blogspot.com

    ResponderExcluir

Mostre a sua!