Sentia, há meses, que algo não ia bem. Insistiu, tentou aproximar-se, mas algo os separava.
Depois de tanto tempo juntos ele teria a dignidade de lhe falar?! Ela perguntou e nada.
Por que ele sempre mentia?! Por que não se rendia e se mostrava arrependido, se era esse o caso?! Ela pensava ser o mínimo que merecia.
Por isso foi digna. Com a crise instaurada ele passou a julgá-la impiedosamente. Deu-lhe lições de moral que nunca esperou ouvir. Logo a ela!
Depois veio a saber por outras bocas o que de fato estava acontecendo muitos meses antes do limite a que tinham chegado. Naquele dia sentiu-se ridícula, otária, uma completa idiota, tudo o que antes pensava serem as mulheres que vasculhavam celulares e bolsos de ternos.
De onde vinha tanto falso-moralismo?! Com quem conviveu todos esses anos?!
Quanto mais pensava nisso, menos conseguia acreditar. Simplesmente não se conformava.
Tinham um ao outro e se perderam?! Será que tinham?!
A confrontação seria inevitável. Eram muitos sentimentos já amalgamados, fundidos, outros tantos confundidos.
E choraram e ponderaram e gritaram e argumentaram e agrediram-se de quase todas as formas possíveis. Tinham passado uma vida juntos e tudo acabaria naquela cena almodovariana.
Ela sentia esgotadas todas as forças. Não havia absolutamente mais nada que pudesse fazer. Nem falar.
Pela segunda vez levantou armas para proteger-se dele e do mal que lhe causava. Terceira não haveria.
Acabou por mandá-lo embora.
O jeito impassível que forjou no rosto para se obrigar a levantar e seguir não denunciava a luta que se travava dentro dela.
Por vezes lembrava dele com nojo, um ódio, uma ânsia, que parecia que ia explodir.
Em seguida a dor veio forte. Lancinante. Uma tristeza tão avassaladora, que chegava a ser física, a ponto de apertar o peito.
Finalmente foi assombrada pelo desprezo, a falta de vontade, a total ausência de sentimentos.
E depois de tantos anos, percebeu-se só. Não soube o que fazer durante muitos meses.
Então lhe ocorreu que a primeira providência a ser tomada era organizar a bagunça esquecida dentro de si mesma... e eram tantos os escombros que, para dar conta, tornou a se fechar.
Uau, ela e a "minha" Luciana teriam muito o que conversar.
ResponderExcluirGostei da intensidade e da dramaticidade da narrativa. Quase pude sentir essa dor física. Tirou ainda mais o meu sono, rs.
Prazer, Luíza! rsrs
ResponderExcluirBem-vindo ao Clube dos Notívagos Insones!
Beijos!
Rsrs!
ResponderExcluirPois é, não é muito comum eu ter insônia, mas... hoje bateu.
Quanto ao seu comentário sobre o Nietzsche, não se preocupe, não falaste nenhuma besteira. Pelo contrário, disseste coisas interessantes e dignas de aprofundamento ;)
Beijos!
Eu to numa fase de insônias terríveis! :(
ResponderExcluirTu é que és educado e generoso... duas grandes qualidades do ser humano, por sinal.
Beijo!
Insônia geralmente é terrível mesmo. Espero que superes essa fase logo.
ResponderExcluirE obrigado. Sinceramente, também vejo essas qualidades em ti. Bom, melhor eu parar por aqui. Isso já está virando MSN, rs!
Beijo e bom dia!
Bom, agora sabendo que não se incomodas com os desenvolvimentos ad infinitum, sinto-me mais à vontade, rs!
ResponderExcluirBeijos de bom dia e bom sábado pra ti!