Nosso amor sempre foi inexplicável. Desafiava o bom senso e o lugar comum. Sequer havia química quando sentimos que se instalava.
Sabia que muito a ti se devia. Talvez também às nossas carências, tão similares. Sempre soubeste alimentar meu espírito, ainda que não pudesses fazê-lo da forma mais apropriada. Emanavas uma generosidade imensa e rara sempre que falavas, fazias e pensavas.
Dávamos conta de nos acariciar para além do espaço físico. Estávamos unidos intelectualmente. O mais não nos importava. O fato de nos sentirmos diferentes e inadequados causava desconforto quando sozinhos, mas quando parte de nós se encontrava, era imensa a satisfação pelo alcance e pelo eco.
Cada um dedicava-se apenas a saciar o outro pelo máximo de tempo possível, satisfazendo pequenos desejos, criando furtivos segredos, empenhando-se nas deliciosas surpresas. Somados à provocação perspicaz, aos códigos que inventamos, nos individualizavam. As cenas que gravamos nos divertia pelo inusitado e agradava por vermos, a nós mesmos, entregues, despidos de pudores.
O encontro era preciso e precioso. Planejado e aguardado. Encantava. Cada parte de mim encaixava no pedaço correspondente de ti. Duas pessoas tão íntimas na distância, próximas diziam quase tudo o que era preciso em silêncio.
Depois de amados ficávamos, ambos, olhando para o teto de estrelas, distantes, lembrando que há minutos o desejo não saciado ameaçava transbordar. Constatando isso, terminávamos por nos enlaçar, como se pudéssemos garantir a permanência, contando apenas com a cumplicidade do ar cálido que nos envolvia.
A cada despedida inúmeros sentimentos se misturavam, pois um sabia o quanto de si no corpo do outro habitava, embora nossas vidas seguissem apartadas. Sob a tranquilidade do adeus havia tanto a ser dito, e sempre, que, como num pacto silencioso, nunca nos permitimos.
Deveríamos ter comemorado mais nosso encontro, pois hoje sabemos o quanto de amor nos foi permitido compartilhar. E há tantos vazios por aí que pensam e dizem amar...
Tudo de ti em mim está preservado num lugar onde nunca ninguém andará.
Tudo de mim em ti está bem guardado, eu sei.
Não há tristeza, não há lamento, apenas uma doce saudade...
um pouco saciada pelo tom inconfundível da tua voz...
sempre foste mansidão...
sempre foste mansidão...
Post tão bonito que até dá medo de estragá-lo fazendo um comentário qualquer.
ResponderExcluirObrigada, querido! Tu realmente és um homem gentil e educado. Sei que ficou intimista demais, mas às vezes não consigo controlar e publico. rsrs
ResponderExcluirBeijo!
Ficou intimista sim, mas não de um jeito negativo. Ficou doce e belamente melancólico.
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