quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Rotina

Eu, que sempre detestei rotina, hoje me vi concluindo ser ela uma ficção que nos dá segurança.
O fato é que, se estamos condenados a escolher, a rotina não existe.
Começamos de manhã cedinho, com a maior tomada de decisão do dia: se vamos levantar da cama e reagir, ou ligar o f-se e deixar o mundo cair...
O mundo até pode cair num dia de maior (in)sanidade, mas caso venhamos a decidir colocar o corpo em movimento, já começamos a escolher: se ou o quê comer; tomar banho ou não; que roupa vestir, e por aí vai...
A cada decisão tomada, os riscos são inúmeros! De comer algo estragado, de tomar banho gelado, de sair de mini saia e mini blusa e cair o maior "toró" e tu lá, no ponto de ônibus, encarangada de frio... e a pneumonia que se pode pegar?!
Existem coisas que, claro, colocamos no automático, senão provavelmente enlouqueceríamos... fechar a porta, ligar o alarme do carro, o ritual do banho (já repararam que nos lavamos sempre do mesmo jeito? E a toalha também faz sempre o mesmo trajeto?!)... isso que ninguém disse que não se pode vez ou outra ligar o som, pegar um vinho, deitar na banheira com água bem quente e ficar ali... no ócio.. ainda que criativo (putz, nem o ócio deixaram em paz! hahaha)... deitar na cama molhado... tomar simplesmente um banho de chuva...
E é exatamente isso que as escolhas demandam: consequências. Então para nós, adutos com um pouco de lucidez, não existe rotina, só existe escolha.
O tempo todo e sempre.
A rotina só existe, realmente, quando dependemos absolutamente de alguém. Quando não temos ainda (ou já perdemos completamente) ingerência sobre a própria vida.
Isso qualquer livro de psicologia infantil ensina. E é por isso que bem cedo precisamos dela, para nos firmarmos no mundo com segurança. Pois é isso que nos primeiros anos de vida a rotina traz: segurança; porque a criança ainda não elabora noções mais complexas como medo, limite, perigo. A partir do momento em que começa a formar seus próprios conceitos, começa a experimentar e, portanto, a escolher.
Na paixão a escolha já começa no objeto... e, obviamente, depois de escolhido, rotina não há, pois é o teu olhar sobre o outro e isso é mistério até... bem, infelizmente... até acabarmos por moldá-lo ou domesticá-lo... e é justamente no momento em que fazemos com que se torne previsível que perdemos o elã, a tempestade torna-se uma "adorável" calmaria entre dois corpos que antes ardiam... e a isso também podemos escolher chamar amor ou tédio absoluto.
Até chegar aí já escolhemos tanto!
Isso porque provavelmente não permitimos que o outro fosse o que realmente é; que nos surpreendesse; que experimentasse... não permitimos a nós mesmos nos deixar surpreender, fazer diferente... pois aí já podem ter entrado ciúme, insegurança, medo, opinião alheia...
Ou permitimos tanto que nos anulamos...
O equilíbrio é tão difícil de ser encontrado!
Talvez se fôssemos mais libertários, nos permitíssemos mais, não déssemos tanta bola para o que os outros pensam... Então as paixões poderiam durar mais e os amores não se reduziriam à convivência pacífica de um casal que pensa se conhecer tão bem que não têm mais nem motivo para brigar... momento 'sublime' em que a rotina passará a abençoá-los para sempre!

2 comentários:

  1. Faz um tempinho que não ando por aqui e sinto que o amor está no ar! Coisa boUa!!!

    Penso que a rotina tem seu lado bom também. Como bem colocaste! Mas a segurança que ela traz não pode ser motivo de monotonia.

    Talvez se fôssemos mais libertários, nos permitíssemos mais, não déssemos tanta bola para o que os outros pensam... Então as paixões poderiam durar mais e os amores não se reduziriam à convivência pacífica de um casal que pensa se conhecer tão bem que não têm mais nem motivo para brigar... [2]

    Perfeito!


    Beijão Lú e bom finde :))))

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  2. Jujú! Saudades de tu!
    Não sei se o amor está no ar... acho que ando à procura dele, na verdade... rsrs
    Tod o esforço é válido, não?!
    Beijos, lindona!

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