quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Capítulo 2

Não tinha levado roupas, então pedi emprestado para a morena que me disse se chamar Paloma e ser a dona do lugar. Com ela andavam sempre uma ou duas moças bonitas, com o mesmo jeito colorido de vestir e um ar malicioso de quem está sempre a provocar, não tem nada a temer e é feliz.
Lembro ter pensado não acreditar teres me levado a um puteiro, mas concluí que era ali mesmo que me querias e eu pouco me importava.
Vesti uma camisa vermelha e uma saia franzida, de um colorido impressionante. Me senti integrada à paisagem. Já era dia quando saí. Estava descalça.
Havia algum tipo de festa na cidade. Bandeirolas por todo o lugar. Parei na frente da pequena Igreja da praça. Entrei. No meio havia a imagem de uma santa pendurada, cujo manto de tecido dava para pegar de tão comprido e por isso tinha as bordas puídas. Sentei e rezei.
Quando saí, estavas na praça e quando me viste vestida daquele jeito abriste um largo sorriso. Retribuí e passei por ti. Perguntei se estavas bem, disseste que sim e ia seguindo meu caminho quando me seguraste pelo braço.
- Onde vais?
- Conhecer a cidade.
E fui.
Largaste alguma coisa que tinhas na mão e me seguiste.
- Não precisas ir comigo.
- Mas estás descalça.
- Eu sei.
- Não sabes cuidar de ti.
- Sei sim.
- Por que ficas me perturbando?
- Por que te deixas perturbar?
- Não sei, gosto de estar contigo.
- Eu também.
- Mas a minha vida é aqui, tu sabes.
- Sei.
- Então o que queres que eu faça?
- Nada. Eu fiz. Vim te ver.
- Vais me obrigar a tomar decisões que ainda não dou conta de sustentar.
- Não vou te obrigar a nada. Só não vou deixar de fazer o que quero por tua causa.
- Eu amo a minha mulher.
- E eu não tenho nada a ver com isso. Não estou te exigindo nada. Aliás, tu tomaste todas as iniciativas ontem depois que me viste.
- Eu sei... É que te vejo e penso no que se pode perder. E me deixas confuso. És puro desassossego. E perco a linha, fico desorientado... Com raiva de mim mesmo por ainda sucumbir a ti apesar da decisão de reconstruir.
- Sei que a rispidez a que me submetes é contigo mesmo. E não há nada que eu possa fazer. Só tu... me paga um sorvete?
Sentei numa mureta, fiquei balançando as pernas, e trouxeste um sorvete de cor esquisita, mas de um sabor maravilhoso... parecia maracujá... com groselha... fresco.
Ficamos lá lambendo vagarosamente vendo o movimento da praça... lembro bem do gosto... e das línguas...

2 comentários:

  1. Uauuuu! Delícia, Lú!!!! Adorooo teus contos noturnos. Ficções muito reais! beijão amore mio *-*

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  2. Obrigada, minha fã! Sou tua fã! rs
    Beijos!

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