Estava cansada demais pra lutar...
Depois de tantos anos, repentinamente tudo parecia inviável.
O efêmero a perseguia nos últimos meses, inviabilizando o que poderia ter sido.
Foi levá-lo calada. Um misto de tristeza e indignação. Sabia que não havia culpados. A dor era dela, porque assim tinha escolhido. Ele não ousou quebrar o silêncio, mesmo porque, dizer que ficaria seria a única coisa que a faria feliz, mas não podia.
Sempre estiveram mais longe do que perto, por imperativos impostos pelos sonhos que cada um acalentava, pelos planos profissionais que cada um traçou para si.
No entanto, ver, sentir, tocar, ouvir, cheirar, fazia com que considerassem com mais convicção a comunhão absoluta de suas almas... o que se dava apenas nos poucos momentos em que o destino lhes permitia a presença física. E era quando sonhavam, juntos, uma vida de aventuras e viagens... de uma casinha a beira mar que lhes permitisse colocar todos os dias os pés na areia no fim de tarde e, de mãos dadas, divagar sobre os problemas existenciais mais profundos... de experimentos e felicidade... de boas leituras na sala, a dois, curtidas e discutidas... de tortas e cafés e chocolates quentes... do edredon morno e cama desarrumada...
Só que, apesar da afinidade, não lhes era permitido tentar por algum tempo. E isso sempre a deixou com a sensação de incompletude. E a ele com a ilusão de que um dia a convenceria a partirem juntos.
Todo o tempo que ficavam juntos era sempre insuficiente. Até então nunca haviam se permitido mais. E era exatamente nesses momentos de despedida que tais sentimentos tomavam uma dimensão avassaladora!
Se abraçaram demoradamente, como se tudo pudesse ser guardado naquele gesto...
Se olharam daquele jeito de sempre, como se fosse a última vez...
Os lábios apenas se tocaram...
E ela baixou os olhos, como fazia quando estava triste... e ele levantava o queixo com os dedos, beijando a ponta do nariz, como se dissesse: "- Não fica assim, minha menina, tu sabes o quanto te amo!" E dessa vez realmente disse...
Ela afastou-se, assustada, e, antes que pudesse dizer alguma coisa, ele lhe entregou um envelope, lhe deu um beijo morno no pescoço e se pôs a andar, sem olhar pra trás.
Com medo do conteúdo, decidiu subir ao segundo andar para vê-lo partir. Pensou se quem tinha inventado aqueles enormes pássaros mecânicos teria cogitado que eles também serviriam para afastar as pessoas.
Era um momento em que não aguentava mais despedidas... Não suportava mais a ideia de não poder tentar...
E ele se foi...
Já indo buscar o carro, o vento fote marcava em seu rosto a intensidade de tudo o que haviam passado. Sentou-se no carro, pegou o envelope e abriu... Uma lágrima furtiva sinalizou a felicidade pela sensibilidade que lhe dedicara... e, pela primira vez, cogitou segui-lo...
L. Fontes.
Adorei. Principalmente as reticências (risos)
ResponderExcluirPausa: a Andrea que nos desculpe, mas a culpa é dela... ela nos chamou a atenção para as benditas..se não fosse ela não perceberíamos que somos apaixonadas pelas reticências..rs.
O texto inspira a gente. Assim como as pessoas e suas posturas diante da vida...
Bj
Mas ela tb não poderia acrescentar mais neuroses às nossas cabecinhas, né, Mi?!
ResponderExcluirSerá que ela clinica e está precisando de pacientes?!?! hahhaahh
E as reticências me inspiram... parece que deixam algo no ar, do que não consegui dizer e que talvez o leitor consiga completar... não sei... rs
Tb AMO qdo escreves!
Beijos!
Que lindo texto "L."!(rsrs)
ResponderExcluirInspiração TOTAL!
Bom feriadinho:))
beijinhos.
Juju, por onde andavas?!
ResponderExcluirPelo silêncio do blog estavas era insPIRADA nos últimoas dias! rs
Bjo!