quarta-feira, 9 de junho de 2010

Explode, coração!

Estou aqui tomando um vinhozinho, lendo Desamores e ouvindo o cd de música tradicionalista gaúcha que recebi de um amigo... parei para prestar atenção na letra e na melodia (excelentes, por sinal!) e me peguei pensando na riqueza da nossa música popular.

Tenho uma memória auditiva bastante apurada, pois meus pais sempre tiveram uma ligação muito forte com a música. Tínhamos discos de todas as nacionalidades, do alemão ao francês, do fado ao tango, minha mãe era aficcionada! De outro lado, minha avó paterna tocava piano muito bem (nunca ouvi alguém executar "La Cumparsita" tão animadamente!) e meu pai idem. Por isso eu e minha irmã tivemos, lá pelos meus dez anos, aulas de "iniciação musical" (isso ainda existe?).
Depois do contato com todos os instrumentos musicais, aulas de ritmo, noções de música, contato com partituras, fazíamos um teste com vários instrumentos. A conclusão foi de que eu tinha inclinação para o violino. Minha mãe quase teve um chilique!!! Imagina, tocar violino era "coisa de homem"... mocinhas deveriam tocar piano! E assim foi. 
Estudei piano por alguns anos, ainda leio partituras muito bem, mas não toco quase nada. E não era por falta de treino, pois tínhamos (e meus pais ainda têm) piano em casa e uma tia-avó era incumbida de nos cobrar no mínimo uma hora de estudo diário. Na verdade, acho que o problema era a professora (que eu pedia insistentemente para mudar!). Impressionante como o estímulo, a técnica utilizada pelo professor, é determinante! 
É que tudo vai bem até chegarmos à adolescência... e foi justamente o momento em que demos início aos insuportáveis exercícios de escalas e a professora não me dava pra tocar mais nada que fizesse bem aos ouvidos! Só treinava os dedos, indo de um dó ao outro, sustenidos, bemóis... escalas, escalas, escalas... com o insistente paquímetro marcando o compasso... era de matar!!!
Bem, a adolescência já é um período complicadíssimo... praticamente anos em que somos acometidos por uma espécie de "doença" para a qual ainda não se descobriu a cura (rs)... alguns sofrem muito nessa fase, outros nunca saem dela e outros tantos a ela sobrevivem. Foi o meu caso, mas não o das aulas de piano.
Até hoje me arrependo profundamente... como a semente ficou, tentei voltar algumas vezes, em vão... somos sempre sugados por compromissos e prioridades... mas, quem sabe um dia...

Foi então que me veio uma música que, embora a letra seja do Gonzaguinha, lembro bem na voz da Bethania (e isso lá da década de 80!). Bem, só ela renderia um outro post de memórias, pois é inegavelmente uma das melhores intérpretes da MPB (e lembro bem que ela, Gal, Ney e Caetano, seguindo Caymi, Toquinho, Vinícius, Tom e Miúcha, se destacavam nas seleções da mãe)! A cada música nos passa a emoção de quem sentiu cada palavra, a emoção pura, da letra que canta... o som não vem da boca, mas do peito, e me toca demais. Tanto que não posso ouvi-la, a menos que esteja me sentindo muitíssimo bem, sob pena de embarcar numa melancolia quase insuportável!
Essa, em particular, diz assim:

"Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou
Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã
Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode, coração!"

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