segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sob o signo de leão

O luar tornava tudo mais claro.
E embora tivesse relutado a noite toda, naquele instante a brisa do mar teimava em levar o pensamento pra muito longe dali...
Desolada, fumava um cigarro, aguardando o grupo que se preparava para sair.
E ali mesmo, em pé na calçada, com o olhar distante, distraída com seus pensamentos, ouviu alguém gritar: "Paixão!"
Sentiu o corpo inteiro estremecer.
Reconhecera o tom de voz.
Há alguns dias ainda dizia que precisava de uma notícia de alguém distante e por alguns segundos não acreditou que tinha sido ouvida. E sabia existir realmente algo de mágico em alguns reencontros. Nesse ainda mais. Alguma coisa que reúne duas pessoas que parecem ter se visto no dia anterior intriga... e quanto tempo se passara desde o último encontro acidental? Seis anos, sete?
Ela acenou. Subiu-lhe o corpo o calor de uma felicidade tão necessária naquele momento, que o sorriso se abriu, indisfarçável.
Novamente viu o carro ser largado no meio da rua, como se ela fosse a coisa mais importante do mundo e o resto pudesse esperar, e que, em razão disso, tudo deveria parar naquele exato instante. Não parava, mas ele insistia em pensar assim.
Sentiu-se confortável ao reconhecer aqueles traços do guri desencanado... os cabelos de ventania... a roupa no harmonioso desalinho de sempre... apesar de algumas rugas e de o corpo estar um tanto mais forte. Quantas vezes se perdera naquele abraço?! Dessa vez não se permitiria, tinha certerza. Havia se fechado novamente. Não estava pronta ainda.
Os demais, de pronto compreenderam que dali ela não mais os acompanharia e seguiram plenos de sorrisos cúmplices, daquele jeito que sempre a inibia.
Enquanto isso, os dois ainda desfrutavam apenas da presença... sem saber muito o que dizer, como agir, o que pensar.
Partiu dele a ideia da conversa na praia. Estranhou quando ela, de forma contida, ponderou que isso já não lhes seria mais possível como na adolescência, porque o tempo não permitia e já não eram mais os adolescentes que foram... ele sabia que esse discurso não combinava com aquele espírito livre de outrora e que algo havia ali a ser descoberto.
O frio fez com que aceitasse acompanhá-lo. Um vinho sempre caía bem em noites como aquela.. e permitiria que se abrissem com toda a intensidade e compartilhassem as histórias vividas nos últimos anos. Apesar da seriedade que alguns momentos exigiram, acabaram rindo e relembrando o passado... um tanto melancólicos...
Surpresa, percebeu que por mais insólito que pudesse parecer, a distância os tinha aproximado. Tornara-os amigos. Íntimos, é verdade... e raro!
E depois de ouvir tantas confissões, conseguiu compartilhar com ele o que lhe afligia o peito.
Logo com ele, que tanto apreciava vê-la nos poucos momentos de fragilidade que se permitia demonstrar.
Ouviu a tudo atento como sempre... enxugou as lágrimas com o carinho de sempre... ofereceu-lhe colo com a liberdade de sempre... criticou-a com a firmeza de sempre... explicou como os homens sentem com a paciência de sempre...
E ela se deixou ficar... pelo desvelo com que lhe tratara, pela paz que lhe proporcionara... sob o olhar terno que teimava em perscrutar aquele jeito de mulher-moça que tanto o encantava.
Riram... brincaram... se provocaram... os corpos se tocaram... mas, já cansados, dormiram abraçados até que as primeiras luzes da manhã invadissem a sala.
L. Fontes

Um comentário:

  1. Luiza, vamos precisar de uma noite inteira!
    Temos muito, muito o que conversar!!

    1000 Beijos Luiza.

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