quinta-feira, 14 de abril de 2011

Coincidências (?!) - Parte I

Foi ao teatro assistir o que queria, na cidade que amava, em que pesasse a falta de companhia.
Chegando lá, perguntou à moça da bilheteria se os ingressos estavam esgotados e ouviu que havia apenas alguns lugares isolados, tendo ela apontado para um rapaz logo à frente que também estava com um ingresso sobrando.
Ele ouviu e virou-se com curiosidade.
Era um homem alto, magro, de óculos. Tinha aquele nariz ímpar (ela sempre reparava em narizes) e uma boca bonita, apesar do sorriso meio tímido.
Aproximou-se dele e ouviu:
- Levaste um bolo?
- Não. Uma torta com recheio e tudo!
(riram meio sem graça)
- Eu também. E agora?
- Não sei quanto a ti, eu vou entrar e assistir à peça.
- Então vou contigo. Onde sentaremos?
Compararam os lugares e optaram por ficar com os dela, mais próximos do palco.
Ele pegou os dele e rasgou ressentido... olhou em seguida para ela, arrependido, pois o tinha feito sem consentimento... em resposta, compreendendo o impulso, ela deu de ombros e virou-se em direção ao saguão.
Entraram, beberam um vinho, conversaram sobre amenidades.
Nisso descobriu que ele era nativo, trabalhava com construção civil e esperava por uma moça que estava em vias de voltar para o ex-namorado. Quando disse isso, ela percebeu uma sombra triste no olhar dele e sentiu saudade da última vez em que tinha percebido a mesma marca nos olhos de um homem.
Falou um pouco de si, embora com medo de se expor a um desconhecido.
Ele comentou ter achado uma graça a covinha que se formava no rosto dela, do lado esquerdo da boca, cada vez que sorria. Ela divertiu-se ao ouvir, pois tinham-lhe dito algo semelhante naquele mesmo dia à tarde.
Quando se deram conta, era preciso entrar, pois faltavam dez minutos para o início do espetáculo.
Embora até então ele tivesse sido gentil, simpático, se mostrado um cara interessante, ela ainda não se sentia confortável. Estava desconfiada. Não acreditava em acasos ou coincidências e isso a deixava ainda mais confusa.
Subiram, entraram no teatro, sentaram-se e ele perguntou o que a estava incomodando.
Como resposta, ouviu um “não sei ainda” cortando o assunto.
Não satisfeito, respondeu que assim que descobrisse, gostaria de ser avisado.
Ela riu pela ousadia.
Comentaram a estrutura do teatro, a acústica, a beleza do madeirame. Ele disse a ela que naquele hotel se hospedavam os pilotos de Fórmula 1 quando estavam na cidade, o que explicava em parte a suntuosidade.
Queria saber dela o que a levou àquele lugar e ouviu algumas coisas sobre o interesse por bons eventos culturais e opções de lazer diversificadas, o encantamento que a cidade despertou nela desde a primeira vez que lá havia estado e que era um lugar onde moraria tranquilamente. Achou interessante o comentário e falou de algumas viagens que já havia feito e dos lugares em que também moraria. Parava quando percebia que ela estava séria demais ouvindo o relato e lhe arrancava um sorriso encabulado.
As luzes começaram a piscar e a peça começou.
Tudo perfeito: cenário, tenor, barítono, soprano, bailarinos, montagem...
Decorrida a primeira hora - que passou sem que percebessem -, veio o intervalo. Comentaram animadamente o espetáculo, a história que estava sendo contada. Devido à ascendência, ele tinha completo domínio sobre o assunto. Ouvindo atentamente, os comentários feitos lhe deixaram com vontade de ler uma biografia sobre a protagonista. Figura bastante ambígua, no que concordaram.
A peça recomeçou no mesmo ritmo.
Ela emocionou-se no final, com o que ele brincou.
Depois dos intensos aplausos, saíram calados do teatro.
Achou engraçado quando ele disse:
- Não quero parecer atrevido, mas gostaria que fôssemos para algum outro lugar conversar mais um pouco. O que achas?
[...]

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