"Saí de casa refletindo a cena e logo me veio uma passagem de 'A Insustentável Leveza do Ser' do Milan Kundera, cuja frase 'o amor começa numa metáfora' já me inspirou uns 387 textos. Tomas, o protagonista desprendido de comprometimento amoroso, se prende à Teresa através da compaixão. Ela dorme doente em seu apartamento. Ele a contempla e passa a amá-la a partir do inócuo episódio.
No livro, o amor é um fruto do acaso, uma maçã mordida quando não se buscava a macieira, o que não garante o caminho de flores. Tomas vive os conflitos da idealização com a realidade. Mas a beleza explode nas delícias pequenas de Teresa deitada em sua cama. Tomas tem o olhar minimalista sobre ela. Minimalista - é o simples, o básico, a busca do máximo pelo mínimo. É quando o sentimento existe a partir de um detalhe, é a metáfora que principia o amor, quando a felicidade vaza os poros.
Apertei o interfone e dei início à minha metáfora. Ela libera o acesso e vou ao encontro dela, provavelmente no meio do corredor. Isso realmente aconteceu, mas você percebe como posso dar ares hollywoodianos? É a metáfora. É o detalhe. É onde reside o amor. Ela me encontra, me abraça e me beija. Eu gosto dela. Gosto do movimento de seus calcanhares subindo a escada, de como seus cabelos presos embalam na subida e roçam sua nuca, de como ela vira pra mim a cada sete degraus e me olha envergonhada de saudade, da sua voz opaca do resfriado se avisando quase pronta.
Eu tenho o olhar minimalista sobre ela. Não importa em que pé caminha nossa relação, onde moram nossos monstros, medos, aflições, o ciúme, o desentendimento, a promessa, a frustração. Não importa se o amor é real ou idealizado. Valem os detalhes do gostar. Enquanto houver o olhar minimalista sobre a mulher, a relação não está perdida, ela não abandonará o recinto num rompante de solidão feminina sem destino, como fez a mocinha do filme.
Eu espero que você entenda de metáforas ao ler o resto desse texto.
Seu carro pode levá-la a qualquer lugar, em alta velocidade, com conforto, potência e segurança, sem limite de tempo ou espaço, com ar condicionado no quente, executando as mais belas canções de amor, no volume máximo. Mas, por favor, antes do semáforo abrir, a beije no canto dos lábios, cole seus rostos no mesmo desenho, perceba de perto os rabiscos de sua íris castanha, sinta o cheiro que há ali onde findam as bochechas e começa o nariz, provoque uma risadinha meiga.
Não importa em qual marcha esteja seu relacionamento, não tome conta apenas da direção, não olhe apenas o caminho, o horizonte, não deixe as duas mãos sobre o volante. Repouse uma sobre a coxa lisa mais próxima. Por mais que você proporcione, não se engane, não é o bastante. Atente pra cada minúcia de sua mulher, lance seu olhar sobre o feminino. Todo amor é inútil, recluso e invisível quando não transcende nos detalhes."
Adorei este blog, vou até seguir. Me segue lá também:
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Obrigada, Madonna!
ResponderExcluirSeja bem-vinda!
Beijos!