"... e dei início a um novo processo de despedida. Não mais o adeus a você, que já havia partido, mas o adeus à pessoa que eu vinha sendo. Aquele eu amargurado é que estava saindo da minha vida.
Foi quando fiquei realmente só.
Era uma solidão nova. A última vez em que estivera totalmente sozinha havia sido antes de começar a namorar meu ex-marido, eu tinha uns 20 e poucos anos de idade. Com mais que o dobro disso, o que fazer com uma vida só pra mim?
Primeiro pensamento: eu não tinha mais a vida so pra mim. Tinha filhos que precisavam de orientação para descobrir seus caminhos, tinha meus pais envelhecendo, tinha meus amigos com seus próprios problemas a dividir.
E então um segundo pensamento atropelou o primeiro: em qualquer circunstância, com filhos, pais, amigos, trabalho, e mesmo estupidamente apaixonada por quem quer que fosse, eu teria sempre a vida só pra mim.
Era para o que eu torcia então: encontrar alguém que me despertasse emoções intensas novamente, mas que, em contrapartida, não me obrigasse a um exílio, não me despatriasse de mim mesma. Aconteceria. [...]
Antes disso, eu precisava entender como é que se diz para um homem 'eu te amo' com tanta transparência, com tanta integridade, e depois se transfere essa frase para outro destinatário, com a justificativa de que isso é apenas o curso natural dos acontecimentos."
(em Fora de Mim, p. 88-89)
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