domingo, 15 de agosto de 2010

Timing

Sempre considerou poucas coisas na vida realmente difíceis de resolver.
Mas uma, em particular, sempre a incomodou: 'timing'... mais especificamente nos casos em que quando ao desejar, se apaixonar, amar, não se encontra eco, seja por falta de reciprocidade, porque estão em momentos distintos de suas vidas ou simplesmente porque o outro não está pronto.
Isso acontecia com ela desde a adolescência, com o primeiro namorado. Ela queria, ele não. Ela insistia. Nada. Passado um certo tempo, realmente não importava mais a ela se depois viesse a querer. Não quis no tempo dela e isso era um grande problema. E, ainda que fosse o oposto, na maioria das vezes aquele pequeno descompasso era irremediável...
Esse é fundamentalmente o risco de quem escolhe.
De quem se arrisca.
De quem procura, bate os olhos, enxerga o outro por dentro, se entrega, e não é correspondido. Ou, quando é, o objeto do desejo permite apenas o contato superficial, seja porque além disso não consegue se entregar, seja por timidez, insegurança ou medo.
É triste, doloroso, e para ambas as partes. Principalmente porque algumas pessoas, depois de maduras (talvez antes mesmo, pois é uma semente que carregamos no peito), não querem mais brincar com o sentimento alheio, permitir que expectativas suplantem a sinceridade, proferir palavras que ultrapassem a justa medida do sentimento, só para agradar.
Não queremos mais ilusões. Elas não nos cabem mais. Não há mais tempo, nem achamos honestos jogos ou qualquer outro tipo de simulação que talvez, outrora, fizesse sentido para alguém ainda novato na entrega, no jogo da sedução, da paixão. Para quem ainda tem cuidado com o outro (com os que valem a pena, 'of course') isso não é maldade, é pureza.
E em algumas pessoas, o charme, o encantamento, não é uma arma, é inato... espontâneo, natural...

No fundo, bem sabia que sempre entrava na vida alhei feito ventania... era sedutora, neurótica, sincera, divertida, mandona, feminina, perspicaz, criativa, tudo permeado por um tanto de malícia... com carinho; carregada de histórias, gargalhadas e convicções (não eternas, as do momento, pois que tudo muda); palpites; ideias; jeito; manias... Chegava e se instalava sem nem pedir licença.
Ocorre que tinha uma profunda necessidade de isolamento.
E detestava sentir-se sufocada.
Amava a liberdade.
Isso encantava o parceiro num primeiro momento... fazia com que se quisesse mais, num segundo... e no fim sempre se constatava que nada mais seria como antes...
Na verdade, isso ela sempre quis. De uma forma ou de outra, é fundamental que nos tornemos indeléveis por onde passamos. Queremos deixar sinais, registros, marcas. É quase instintivo...
Alguns não suportaram...
Mas se desses sinais, dos registros juntos, das marcas na rotina e no pensamento, o saldo for positivo, já terá valido a pena.

E por fim, inesperadamente, leu:

"Nunca diga te amo se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti.
A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo." (Mario Quintana)

E sentiu-se triste... repreendida por ter se permitido experimentar...

2 comentários:

  1. A vida tem de ser assim...a gente faz o nosso destino, pagamos pelas nossas escolhas...
    Palavras lindas, aquecem o coração.
    beijos.

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  2. Belo texto Lú!!!

    Por que algumas coisas não são como desejamos? grrrrrrrrrr

    Enfim, passar por aqui sempre me conforta!!

    Beijoca e boa semana :)))

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