domingo, 9 de maio de 2010

Recorda

"Cada alma tem seu íntimo recato
N'uma estrela perdida
E cada coração intemerato
Tem na estrela uma vida.

Aplica o ouvido à correnteza fria
Dos golfões da matéria
E recorda de que lama sombria
É composta a miséria.

Recorda! Sonha! Nas estrelas erra,
Beduíno do Espaço
Aos sonhos brancos, que não são da Terra,
Dá, sorrindo, o teu braço...

Dá o teu braço, pelos céus sorrindo
E recordando parte
E hás de entender os claros céus, sentindo
Que andas a recordar-te.

Ah! volta à infância dos primeiros beijos,
Dos momentos sidéreos
Volta à sede dos últimos desejos
Dos primeiros mistérios!

Ah! Volta nos desenganos primitivos,
Volta à essência dos anos,
Volta aos espectros tristemente vivos,
Ah! Volta aos desenganos!

Volta aos serenos, floridos oásis,
Volta aos hinos profundos,
Volta às eflorescências dos lilazes,
Volta, volta a esses mundos!

Fique na Sombra e no Silêncio d'alma
Todo o teu ser dolente,
Para tranqüilo, com ternura e calma,
Recordar docemente...

Pois a cabeça, meigamente pousa
Nesse augusto quebranto
E nem da Terra a mais ligeira cousa
Te desperte do encanto.

Para a Dor, para o Amor e para o Sonho
Nas esferas transborda...
E entre um soluço e um segredo risonho
Recorda-te, recorda... "
(Cruz e Souza)

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