terça-feira, 30 de março de 2010

Derrubei os muros que me protegiam.
Dei liberdade.
Devassei espaços que me eram privados,
para descobrir até onde iriam.
Dei risadas, contei piadas, ofereci um pouco de confiança,
curiosa em saber o que cada um faria,
qual abusaria, qual respeitaria os limites, e quais limites.
Acabei por construir mais pontes do que muros,
temendo a solidão.
Quis saber o que aconteceria, afinal.
Me fiz conscientemente vulnerável,
para saber quem agrediria,
ou quem sequer me tocaria (embora pudesse).
Mesmo desarmada,
descobri que poucos me atraíam...
alguns apenas por temer encontrar meu punho cerrado.
E assim, feita acessível e vulnerável,
sem me proteger com tanta convicção,
ou nos castelos em que poderia,
me vi transparente.
Translúcida, pude enxergar melhor
E compreender...
Testar respostas...
Tentar estímulos...
Desfrutar sensações...
Experimentar emoções...
Por vezes me foi permitido partilhar do sentimento livre,
da reserva selvagem,
desvendar a essência do interlocutor.
E por me sentir livre, percebi quem atende à força,
à doçura, à curiosidade, ao desejo...
Acabei por saber do outro quase tanto quanto ofereci,
pois sem que se desse conta, o devassei.
Quando me feriu, mostrou-se nu
(sincero até, mas sem querer),
e quando se abriu, me possuiu
(ainda mais frágil e vulnerável).
Vi máscaras caírem,
me perguntando se ficaria o mundo mais puro nesses raros instantes...
Vi quem não as usava,
na mais pura entrega.
Foram poucos, verdade,
mas tiraram do peito a angústia de quem
se protegeu tanto que já não amava,
não se expunha conscientemente,
não se deixava penetrar apenas para não se ferir.
Vários desfrutaram da minha terra proibida,
já não mais cercada.
E mesmo assim roubaram, depredaram,
levaram pequenas partes de mim sem licença...
Alguns poucos, ainda da margem,
jogaram flores, apreciaram a paisagem...
Perto, e sem medo, se deixaram tocar...
E provaram, consentidamente, o que de melhor havia em mim.

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